My brother needs a haircut.
Saturday, May 30, 2009
Thursday, May 28, 2009
Castaway
Ser um náufrago é ser um ponto perpetuamente no centro de um círculo. Por mais coisas que pareçam mudar - o mar pode passar do murmúrio à raiva, o céu podia ir de um azul fresco para o branco ofuscante e o negro mais carregado -, a geometria nunca muda. O nosso olhar é sempre um raio. A circunferência nunca é grande. Na verdade, os círculos multiplicam-se. Ser um náufrago é ser apanhado num angustiante bailado de círculos. Estamos no centro de um círculo, enquanto por cima de nós dois círculos opostos giram. O Sol atormenta-nos como uma multidão, uma multidão ruidosa e invasora que nos faz querer esconder-nos. A Lua atormenta-nos, lembrando-nos silenciosamente a nossa solidão; abrimos muito os olhos para escapar à solidão. Quando olhamos para cima, por vezes interrogamo-nos se no centro de uma tempestade solar, se no meio do Mar da Tranquilidade, não haverá outro como nós também a olhar, também aprisionado pela geometria, também a lutar contra o medo, a raiva, a loucura, a desesperança, a apatia.
A vida de Pi, Yann Martel
Wednesday, May 27, 2009
Hardships of faith
Praticava rituais religiosos que adaptava às circunstâncias [...] Eles traziam-me conforto, isso é verdade. Mas era difícil, Oh, era difícil. A fé em Deus é uma abertura, um desabafo, uma profunda confiança, um acto livre de amor - mas por vezes era tão difícil amar. Por vezes, o meu coração afundava-se tão depressa na raiva, na desolação e no cansaço, que eu tinha medo que ele mergulhasse até mesmo ao fundo do Pacífico e eu não fosse capaz de o trazer à superfície.
Em tais momentos tentava elevar-me. Tocava no turbante que tinha feito com os restos da minha camisa e dizia em voz alta: "ISTO É O CHAPÉU DE DEUS!"
Batia nas minas calças e dizia em voz alta: "ISTO SÃO AS CALÇAS DE DEUS!"
Apontava para Richard Parker e dizia em voz alta: "ISTO É O GATO DE DEUS!"
Apontava para o barco salva-vidas e dia em voz alta: "ISTO É A ARCA DE DEUS!"
Abria muito as mãos e dizia em voz alta: "ESTAS SÃO AS VASTAS JEIRAS DE DEUS!"
Apontava para o céu e dizia em voz alta: "ISTO É O OUVIDO DE DEUS!"
E deste modo lembrava a mim mesmo a Criação e o meu lugar nela.
Mas o chapéu de Deus estava sempre a desmanchar-se. As calças de Deus caíam aos bocados. O gato de Deus era um perigo constante. A arca de Deus era uma prisão. As vastas jeiras de Deus estavam a matar-me. O ouvido de Deus não parecia ouvir-me.
O desespero era um pesado negrume que não deixava entrar nem sair nenhuma luz. Era um inferno impossível de exprimir. Agradeço a Deus por ele ter sempre passado. Um cardume de peixes aparecia à volta da rede ou um nó precisava de ser refeito. Ou eu pensava na minha família, como eles tinham sido poupados àquela terrível agonia. O negrume agitava-se e finalmente desaparecia, e Deus permanecia, um ponto brilhante de luz no meu coração. E eu continuava a amar.
Em tais momentos tentava elevar-me. Tocava no turbante que tinha feito com os restos da minha camisa e dizia em voz alta: "ISTO É O CHAPÉU DE DEUS!"
Batia nas minas calças e dizia em voz alta: "ISTO SÃO AS CALÇAS DE DEUS!"
Apontava para Richard Parker e dizia em voz alta: "ISTO É O GATO DE DEUS!"
Apontava para o barco salva-vidas e dia em voz alta: "ISTO É A ARCA DE DEUS!"
Abria muito as mãos e dizia em voz alta: "ESTAS SÃO AS VASTAS JEIRAS DE DEUS!"
Apontava para o céu e dizia em voz alta: "ISTO É O OUVIDO DE DEUS!"
E deste modo lembrava a mim mesmo a Criação e o meu lugar nela.
Mas o chapéu de Deus estava sempre a desmanchar-se. As calças de Deus caíam aos bocados. O gato de Deus era um perigo constante. A arca de Deus era uma prisão. As vastas jeiras de Deus estavam a matar-me. O ouvido de Deus não parecia ouvir-me.
O desespero era um pesado negrume que não deixava entrar nem sair nenhuma luz. Era um inferno impossível de exprimir. Agradeço a Deus por ele ter sempre passado. Um cardume de peixes aparecia à volta da rede ou um nó precisava de ser refeito. Ou eu pensava na minha família, como eles tinham sido poupados àquela terrível agonia. O negrume agitava-se e finalmente desaparecia, e Deus permanecia, um ponto brilhante de luz no meu coração. E eu continuava a amar.
A vida de Pi, Yann Martel
It's that time of year again
Começam-se a desenhar na minha mente e a enraizar-se no meu coração os planos para as férias...
Up, down, up
Dia de pequenos avanços. O trabalho sobre obra de J. M. Coetzee começa a ganhar forma (ainda que muito toscamente). A minha voz começou a regressar ao normal. O ensaio de teatro derrubou-me os medos e receios. A companhia foi fantástica. Agora vamos espraiar-nos noite adentro.
Tuesday, May 26, 2009
Monday, May 25, 2009
Dystopia
Hoje acordei para um mundo diferente. Um universo paralelo e negro. Ando rodeada de fantasmas e feridas abertas. Não é por um monstro estar adormecido que deixa de existir. Todas as minhas tentativas para forçar um sorriso distorcem-se até às lágrimas. Hoje é um mau dia. Resta-me fazer dele um dia de mudança.
Sunday, May 24, 2009
Saturday, May 23, 2009
A vida de Pi - Time
A minha história começou num dia do calendário - 2 de Junho de 1977 - e terminou num dia do calendário - 14 de Fevereiro de 1978 -, mas entre os dois não houve calendário. Não contei os dias ou as semanas ou os meses. O tempo é uma ilusão que nos põe ansiosos. Eu sobrevivi porque me esqueci até da noção de tempo.
Yann Martel
Friday, May 22, 2009
Tabula rasa-ish
One of the nicest things about having you back is the fact that we've been apart for so long. Going our different paths, doing different things, reading different books, watching different stuff. And unlike with her, with you I don't feel like I'm constantly falling behind. Because there's this huge gap between us. There's so much to catch up on. It's refreshing - and yet still oddly familiar - having someone asking me for advice on books and movies. I say Orwell or Marillier and it's all new to you. And I feel there's work for me to do, that you're clay between my fingers. It's nice to be master for a change! :D
Thursday, May 21, 2009
Cinemada
Wednesday, May 20, 2009
Today's whimsical cravings
Hoje apetece-me ver um filme com a Audrey Hepburn, comer quinoa e ler Juliet Marillier.
Tuesday, May 19, 2009
Tão certo como o sol nascer
Assim que a agenda académica começa a apertar, surgem os desejos. Os livros piscam o olho das prateleiras, os dvds insinuam-se descaradamente, a playstation chama desalmadamente. É algo de tão matemático que chega a dar vontade de rir.
First gear
Depois de um fim de semana violento, a semana começa à terça-feira. Lentico, lentico, como dizia o Ramón Morales. Amanhã volto a ligar o turbo outra vez.
Sunday, May 17, 2009
Journal of misery
Há alturas em que, apesar das coisas boas que persistem na nossa vida, não conseguimos desviar o olhar das coisas más que nos vão engolindo como areias movediças. Ultimamente isto tem sido cada tiro, cada melro. Portanto criei um diário de tristezas. Porque não tenho tempo nem energia para dispensar em choraminguices e depressões. Nem tempo para as ignorar, porque isso seria arrastá-las comigo. Portanto vai tudo para o papel. Fica lá, parado e sossegado. Um hiato até dia 16.
There's too many of you [...] There's too little of me
Jesus Christ Superstar
Saturday, May 16, 2009
Friday, May 15, 2009
Burnt children
There is no such thing as a re-start button when it comes to relationships. No illimited chances. Put a quarter and start over. You can mess up, people that you hurt may forgive you, but that does not mean that they forget what's been done to them. It's a simple lesson. Scars. So I really don't understand where do you come off demanding a clean slate. Have you no such thing as long-term memory? Have you forgotten? Why do you get so mad when people react accordingly to the injuries you caused them? God, you're such a child...
Arranca hoje...
... o VII Congresso Mundial de Salsa.
vai ser um fim-de-semana de cair para o lado...
Thursday, May 14, 2009
Ocorre-me agora...
... que deve parecer que desenvolvi uma súbita obsessão pelo Garfield. Não é verdade. Simplesmente estou demasiado ocupada para procurar noutros lados.
Upgrading
Wednesday, May 13, 2009
Tenho cá para mim que é hoje...
... que o Puto KEP Nº1 vai nascer...
*toca a despachar trabalho para termos tempo para ir à maternidade*
Monday, May 11, 2009
"A sua vida por uns versos de amor"
Nova obsessão: Versos de Amor do Carlos Paião. Não faço ideia de onde é que isto veio, não sei o que me deu. Só sei que - como já vem sendo hábito - isto ainda pode acabar mal...
Getting serious
Amanhã vou ligar o turbo...
Acho deve correr bem se esquecer os Sims por umas semanas...
Sunday, May 10, 2009
Wednesday, May 06, 2009
Note to self
Nunca mais passar um dia de pijama (a menos que se esteja de férias); mina-nos a vontade a acabamos por não fazer nada de jeito o dia todo. Que desperdício...
Tuesday, May 05, 2009
Gospel to women
O que torna A doll's house tão especial não é apenas a sua semelhança a personagens saídas da pena de uma Brontë. É o facto de que Nora é como a ovelha perdida que finalmente encontra o caminho (e fá-lo sozinha, sem a ajuda de qualquer pastor). É o abandonar o Principe Encantado (e aperceber-se que afinal também ele tem defeitos) e procurar a sua própria salvação, a sua própria verdade e identidade. É o passar vertiginoso da frivolidade para uma sabedoria interior maior. É a subtileza do gatilho que despoleta a sua mudança. E, claro, é o facto de que a peça foi escrita em 1879 por um homem.
Well done sister Suffragette!*
NORA: [...] There is another task I must undertake first. I must try and educate myself - you are not the man to help me in that. I must do that for myself. And that is why I am going to leave you now.
HEL: [springing up]. What do you say?
NORA: I must stand quite alone if I am to understand myself and everything about me. It is for that reason that I cannot remain with you any longer.
[...]
HEL: It's shocking. This is how you would neglect your most sacred duties.
NORA: What do you consider my most sacred duties?
HEL: Do I need to tell you that? Are they not your duties to your husband and your children?
NORA: I have other duties just as sacred.
HEL: That you have not. What duties could those be?
NORA: Duties to myself.
HEL: Before all else you are a wife and a mother.
NORA: I don't believe in that any longer. I believe that before all else I am a reasonable human being just as you are - or, at all events, that I must try and become one. I know quite well, Torvald, that most people would think you right and that views of that kind are to be found in books; but I can no longer content myself with what most people say or with what is found in books. I must think over things for myself and get to understand them.
HEL: [springing up]. What do you say?
NORA: I must stand quite alone if I am to understand myself and everything about me. It is for that reason that I cannot remain with you any longer.
[...]
HEL: It's shocking. This is how you would neglect your most sacred duties.
NORA: What do you consider my most sacred duties?
HEL: Do I need to tell you that? Are they not your duties to your husband and your children?
NORA: I have other duties just as sacred.
HEL: That you have not. What duties could those be?
NORA: Duties to myself.
HEL: Before all else you are a wife and a mother.
NORA: I don't believe in that any longer. I believe that before all else I am a reasonable human being just as you are - or, at all events, that I must try and become one. I know quite well, Torvald, that most people would think you right and that views of that kind are to be found in books; but I can no longer content myself with what most people say or with what is found in books. I must think over things for myself and get to understand them.
A doll's house
*Mary Poppins BSO
A doll's house
Tenho estado zangada contigo. Ainda estou. Ainda estarei por muito, muito tempo. Pela forma crónica como te comportas com todas nós. Não é defeito, é feitio, dizem. Não quero saber. Se não és capaz de mudar pelas pessoas que amas, então... não interessa. Não vou discutir hoje. Porque hoje tenho o meu estandarte bem alto. Hoje uma peça aparentemente menor e sem grande importância deu novo valor às minhas palavras amarrotadas. Aos meus gritos que nunca te alcançam. Hoje tenho paz. E tudo devido ao génio de Henrik Ibsen.
Sunday, May 03, 2009
Hope
Já que Abril correu tão bem no departamento das leituras, vamos acreditar que também em Maio eu consigo cumprir a imagem da barra lateral...
We were numb and away...
... but now we're back. And up till yesterday I didn't fully realize how much I've missed you. Feels good to have you in my life again. You're my other Cristina.
Subscribe to:
Posts (Atom)