Lembro perfeitamente do momento em que me apaixonei pelos livros. Tinha nove anos e a minha professora da primária tinha começado a ler-nos As Crónicas de Narnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-fatos duas tardes por semana. Lembro-me que nessa semana bati o pé na secção de livros do Carrefour até o meu pai me deixar trazer um exemplar para casa. Ainda tropeçava um pouco pelo português escrito, mas desde logo sabia que algo de muito importante tinha entrado na minha vida. Era um mundo novo. E eu era Lucy, a mais pequena dos quatro irmãos, pronta a descobri-lo. Dentro daquelas páginas estava um mundo mágico. O livro era o seu guarda-fatos, o portal que me permitia entrar. A mim. Sozinha. Deixava o mundo para trás, essa realidade cinzenta, salgada e turbulenta para mergulhar onde ninguém me poderia seguir. De onde ninguém me poderia arrancar. Um casulo quente e seguro. Simultâneamente, os livros eram muralhas, mantendo os outros de fora. Todas as crianças más. Todos os adultos desnorteados. E todas as crianças más. Para mim, menina pequena e sem carapaça, a descoberta da literatura foi desde logo uma benção divina. Um amor inquebrável, ainda que preenchido de ausências e retornos. Um grande, grande amor...
1 comment:
a nossa professora leu-nos esse livro?:o
não me lembro..
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