Inverno cinzento. O som ritmado da chuva faz-me cabeçear (ainda mais). O dente ainda mói e tudo em mim pede cama. Manter as pálpebras levantadas é um esforço de tal forma titânico que não sobra nada para pensar. Sei o que tenho de fazer, sei a (terceira) noitada que me espera, prevejo já uns tropeções no caminho. Até o teclado tão familiar parece ter as teclas mais pesadas. Nada parece conseguir prender a minha atenção mais do que dez, quinze segundos de cada vez. As palavras estão confusas: umas não saem, prendem-se aos lençóis cá dentro, outras tropeçam ensonadas e sem grande sentido ou contexto. O meu reino por sete horas de sono. Mas isso seria sorte a mais. Em vez disso tenho um documento trocista que me cospe palavras ao meu cérebro cansado e um irmão à espera de manutenção e mimo. Lindo dia para o mundo precisar de mim!
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