Keep breathing*

Algures pela nossa vida surgem momentos sem escapatória. Uma chuva que nos ensopa até aos ossos e sem qualquer telhado ou árvore que nos proteja. Nada a que nos possamos agarrar emocionalmente. Porque até a nossa toca está armadilhada. A voz ficou subitamente enjaulada, a coreografia não entra e a coragem foi-se. Não sabemos bem quem é aquele ser do outro lado do espelho, mas sabemos que não gostamos dele. É uma deturpação nossa. Tudo por um comodismo estúpido ou simplesmente porque chegou a hora de aprendermos mais uma lição de vida. Mas o tesouro por debaixo dos destroços é que é nesta altura que (re)descobrimos a fibra que temos dentro de nós. São estas situações que nos fazem querer mostrar ao mundo que as nossas pernas ainda sabem correr, mesmo contra o vento. O bom desta chuva é que arranca a sujidade que se nos entranhou na alma e no fim só há-de restar um arco-íris esplendoroso.

*Ingrid Michaelson, «Keep breathing», Grey's anatomy