O meu irmão já não sorri. Há meses que tento sem sucesso ouvir aquele riso dobrado que sempre lhe foi característico. Agora chora. Range os dentes, morde a mão e bate na cabeça para esquecer a outra dor. Aquela que não podemos aliviar. Quando nos vê agarra-se com sofreguidão como se lha pudessemos retirar como a um penso. E está magro. Trinta quilos. Dá para tocar piano nas suas pequenas costelas. Os ossos furam a pele como varetas de uma tenda mal montada.
Só quero que chegue o final de Fevereiro. Mas tenho medo do que vem depois. Do pós-operatório. Da segunda operação apenas três semanas após a primeira. De o ver aguentar aquilo com uns meros trinta quilos de corpo. De o ver entubado, com a mão amarrada para não mexer nos fios, os olhos desesperados a olhar para nós a perguntar porquê? Porque ele é apenas uma criança que não sabe falar. Não pode pedir para o mudarmos de posição, para lhe darmos água, para lhe coçarmos o nariz. Não vale de nada dizermos-lhe Vai ficar tudo bem.
Quero a Primavera. Com as operações passadas, sem gesso nem tubos. E o meu irmão com a perna como nova. A sorrir para mim. Como sempre foi.
1 comment:
Força aí. Vai passar rápido.
Boas melhoras para o teu mano.
E tu...aguenta-te aí nas canetas e não desistas de tentar fazer sorrir o teu mano. Ele pode não conseguir sorrir por fora por causa das dores, mas por dentro tenho a certeza que os teus miminhos lhe dão algum alento e conforto.
Beijinhos *************
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