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Wednesday, December 27, 2006

Mudanças

I must say that I don't like moving about from one home to another; one gets so pleasantly used to all the detail of life about one; it fits so harmoniously and happily into one's own life, that beginning again, even in a small way, is a kind of pain.
William Morris, News from Nowhere
Finalmente algo que me liga a este livro! Não gosto de mudanças. Sou uma pessoa de raizes, afeiçoo-me ao que tenho e pronto! Não percebo essa fúria de correr o mundo de verdade. Amigos em vários países, visitas constantes ao resto do globo. Para mim o único recanto que preciso é a minha cadeira de baloiço e os meus livros. E as pessoas. O que mais me custa são as pessoas. Porque não sou de me dar muito a príncipio. Vou aos poucos, como um gato desconfiado até que me sinta em casa e apartir daí é uma festa em cafeína! Balões todos os dias e muita maluquice e afecto. Mesmo que não mostre - porque nunca fui muito de beijinhos e abraços. Leva o seu tempo, mas quando o gelo é finalmente quebrado e eu começo a ronronar chega a hora da despedida. E já não me lembro de como era a minha vida antes... Não, não gosto de mudanças. Custa-me pensar que o fim está próximo, que não vai sempre assim e que a vida tem de seguir em frente. Olho para as fotos de grupo e parece que já prevejo fantasmas. Como um puzzle que vai perdendo as peças com o tempo. E no fim não me consola muito pensar que não vai doer. Pensar que será o que tiver de ser e que não faz mal. Outras pessoas hão-de vir, novas raizes se irão formar. Sentir que a vida é uma série de relações cruzadas, um "Olá, como estás? Deixa-me partilhar um pouco da minha vida contigo" sem cessar. E por muito que seja um "fenómeno mágico de interacção social" no fim acabo sempre por regressar à minha modesta cadeira e a fotografias desbotadas... Que vou fazer? Esconder-me debaixo da cama? Aninhar-me na minha cadeira de baloiço e esquecer tudo o resto? Não! Há que continuar a viver, a partilhar e a sorrir, mesmo que no fim noventa por cento das nossas relações tenham um prazo de validade.
"como se as pessoas não deixassem um buraco" - De novo aquela minha frase que não consegui esquecer...

1 comment:

Anonymous said...

deixam um buraco. e acho que é um bom sinal que o deixem. um sinal um pouco amamentado por amargura ou seja lá o sentimento-triste que for, mas mesmo assim um bom sinal. porque a vida tem de seguir em frente, sim, mas porque é que não nos pode custar que isso aconteça? porque é que não podemos sentir tristeza por se sobrepôr sempre aos nossos laços? se for mau, é mau para nós e talvez prefiramos isso a encarar o que ficou para trás como "uma fase". odeio essa expressão. falar de tudo com distanciamento. todas essas fases ajudaram-nos a chegar onde estamos neste momento. por isso acho que prefiro ter o buraco. prefiro lembrar-me com saudade. mesmo que tenha de ser assim :)

"Não é preciso empurrar a vida. É coisa que ainda anda bem sozinha." Miguel Esteves Cardoso em O Cemitério de Raparigas

beijo grande * :)

(sou tão assim como tu =$)