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Tuesday, February 28, 2006

Pena quieta

Endireito as costas. Olho para o ecran. Bebo um pouco de água, olho outra vez... mais água... suspiro... Isto da falta de inspiração é lixado. Ter o que dizer e não saber como, querer dizer, mas não saber o quê... Bato com a caneta no tampo da secretária - nada!

O tic-tac do relógio começa a irritar-me... Respiro fundo, adquiro uma pose séria, levemente (falsamente?) erudita, como quem tem algo para dizer, algo de diferente, único e inesperado, ou simplesmente... algo!

Não adianta... isto é dia de calmaria e sem vento a minha embarcação não vai a lado nenhum... Começo a cantarolar aquelas músicas que passam nos concursos de televisão quando os participantes estão a pensar... que deprimente! Estou a afundar-me cada vez mais, e ainda por cima para nada, porque como dizem os brasileiros "estou num mato sem cachorro!"

Até amanhã... talvez...

Sunday, February 19, 2006

O guardador de rebanhos (poema XXXVI)

E há poetas que são artistas
E trbalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira.
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.

Alberto Caeiro

Porque há dias em que não me apetece pensar. Porque sim. Porque não. Porque não sei. Também não sei se quero saber. Who cares?... Não tenho que ser sempre um ser pensante (se é que sou um)...Carpe diem, eu vou dormir mais um bocado, depois... depois logo se vê...

Friday, February 17, 2006

Nostalgia antecipada

E assim chegamos ao fim das férias. (Suspiro). Apartir de segunda-feira recomeça o horário maluco, o quase não dormir que agora de certeza mostrará as suas consequências. (Longo suspiro).

Adeus ao decidir o que fazer na própria altura. Ir ao cinema quando me apetecer, ficar na conversa até às três da manhã e acordar ao meio-dia.

E quando tudo recomeçar vou olhar para trás e pensar como desperdicei aquele tempo todo. Vou querer ler um livro ou ver um filme e não terei tempo para nada. Tanto tempo perdido a dormir ou simplesmente a olhar para o tecto, a pensar em trivialidades durante tardes inteiras...

Nos próximos três meses vamos voltar ao Joana-faz-tudo-num-dia... Ginásio de manhã, faculdade, aulas de canto, ler sebentas e passar apontamentos, dar banho ao meu irmão, aulas de salsa...

Depois, claro, há ainda as coisas que não quero deixar de fazer: ver os Friends, ir ao cinema, sair com os amigos, escrever no blog, sair à noite... Mas o tempo não estica (mais) e o corpo arrasta-se para acompanhar as minhas vontades.

Dias que são sem dúvida preenchidos. Três meses em que quando chegar a noite (todas as noites) não sentirei absolutamente nada depois de cair na cama e em que o sono parecerá não durar mais do que um piscar de olho.

Tão saudoso será este tempo, e tão longe estará ainda o verão...

Enfim... é preciso ver o copo meio cheio - há sempre os amigos, professores como a bicha aborboletada, o tempo depressa começará a atrair-nos para a esplanada... e claro, para mentes mais despreocupadas, há as baldas (blau machen!).

E com a música certa a vida vai seguindo, mais alegre e colorida.

Tuesday, February 14, 2006

Duetos

É dia de S. Valentim. Tu colocas-te ligeiramente atrás de mim para leres sobre o meu ombro. Dizes que te esqueceste do teu exemplar. Que conveniente! Não digo nada. Tento apenas concentrar-me. O piano, o compasso, o tom - entrei no meu elemento...

Até que tu começas a cantar e destróis todas as minhas defesas. Parvo! Como é possivel que fique a tremer apenas por te ouvir cantar ao meu ouvido? Perco a concentração, as pernas tremem e parece que todo o meu balanço se foi. No teu canto dizes que me amas, que me protegerás sempre, que nunca me deixarás e serás sempre meu, para sempre. Sem conseguir olhar para ti, respondo-te no mesmo tom, peço que repitas novamente o teu amor, colocando o meu coração na voz.

Se olhasses directamente para mim verias os olhos brilhantes, e se estivesses dentro de mim notarias a dificuldade que tenho em controlar a minha respiração. Naquela sala tudo o que existe para além de nós parece desaparecer.

Quero acreditar que o que existe naquele momento é real, que o que dizes é mesmo para mim, que não é só mais um exercicio sem significado para ti. Mas no fundo sei que nada é verdade... tu não sentes nada por mim e eu não sei nada sobre ti. Já devia saber comportar-me como uma "profissional", mas é mais forte que eu.

Tu não cantas para mim mas para a minha personagem e eu... eu quero cantar para ti, mesmo sabendo que nunca andaria contigo. Este momento já foi adiado tantas vezes que o meu coração não consegue acreditar que este é apenas mais um alarme falso. Por mim, deixava as partituras cairem no chão, virava-me para ti e beijava-te. Agarro-as com força, como que para me impedir de o fazer. Todo o meu corpo parece debater-se com as minhas próprias ordens. Só por hoje, pede uma voz dentro de mim, só por hoje que é S. Valentim...

Devido às respostas do post anterior estive quase para não colocar este aqui. Não estou à espera de consolação, mas achei importante deixar aqui o post na mesma, pelo menos para esclarecer algumas mentes teimosas relativamente ao meu estado de "derretimento" quando certa pessoa começa a cantar - não tem a ver com o cantor, mas sim com a personagem, e comigo.

Monday, February 13, 2006

Maldita semana

Esta semana do ano deixa-me sempre tão deprimida - é o dia de S. Valentim e na semana seguinte os meus anos. Quer dizer, nos meus anos (felizmente) não tenho tempo para ficar deprimida (cortesia dos meus amigos). É antes o facto do estuporado do dia 14 estar tão próximo do meu aniversário, como se uma vozinha me dissesse: "Mais um ano que passou e nada... e para a semana estarás um ano mais velha". Nestas alturas a minha vida assemelha-se a uma ampulheta a escacear de areia (estou a ser dramática de mais - é outra vez culpa do meu lado sádico).

Mas tenho tantos projectos acumulados... Projectos para dois. Cada romance cor-de-rosa, cada dança, cada dueto, cada maldita comédia romântica. Parece que há algo na minha mente a funcionar como uma espécie de examinador de bloco e caneta em riste, ar concentrado e óculos a meio do nariz. E as anotações acumulam, e acumulam e acumulam...

Estou farta da conversa consoladora: "Deixa lá, qualquer dia será a tua vez", "Quando deixares de procurar", "Quando menos esperares", yadda, yadda, yadda... No fim sinto-me como uma donzela trancada numa torre de marfim sem poder fazer nada, como se fosse só o Destino a ser cruel comigo.

A verdade é que me sinto velha. Velha e incapaz (isto deve fazer-vos rir). Tenho quase 20 anos e nunca nada... A minha vida amorosa resume-se a um ecrãn de televisão/cinema, livros e observação da vida amorosa dos outros. Sinto-me patética quando penso que na suposta altura certa vou parecer uma adolescente à beira de um ataque de nervos, quando na verdade eu não sou assim. Em tudo o que faço já superei o nível da adolescente desajeitada (quer dizer, tenho momentos verdadeiramente infantis, mas não mais do que o normal e sempre acompanhada (ou seja, a culpa não é inteiramente minha!)). Todos os aspectos da minha vida/personalidade evoluíram, enquanto que este ficou para trás. Parado no tempo. Interrompido sem nunca ter começado.

E depois há a família. A família, que olha para mim como sendo um bicho raro por na minha idade não andar para aí com "namoricos". A família que de forma tão teatral afirma espantada não acreditar que não haja "mouro na costa". A família, que então diz que são tudo mentiras minhas, que eu só não quero é falar sobre o assunto. A família, que quando finalmente acredita em algo tão mirabolante como não ter namorado me chama "ajuizada" (grrr) e me diz que "assim é que é - primeiro tirar o curso e arranjar a minha vida, depois logo me posso dedicar a isso" (devem pensar que isto é como ficar numa estação à espera do autocarro!).

Já passei a fase das lágrimas. Aqueles anos em plena adolescência em que tudo me fazia chorar. (Riso.) Devo ter chorado tudo o que o prédio inteiro tinha direito (incluindo animais de estimação). Se tivesse sido tudo numa noite ter-me-ia afogado, como quase aconteceu com Alice do País das Maravilhas.

Agora estou apenas(?) inquieta e expectante. É como se esperasse pela chegada da madrugada para começar a minha vida. É absurdo, eu sei. E percebo que seja estranho para os que (ainda) estão a ler este post, visto que a maioria me vê como alguém que superaria tudo isto facilmente. Eu sou aquela que tem um horário inacreditávelmente elástico, onde sequer arranjar o tempo para me preocupar com isto? Tenho uma voz invejável, sou uma boa dançarina... - porquê ralar-me com inquietações inuteis? Frito (termo técnico) com facilidade, vivendo o dia uma piada/gargalhada de cada vez... Carpe diem, dizem "eles"... - mas será que terei sempre tempo para poder encarar o carpe diem sem desesperar ao olhar para a ampulheta?

Este é o meu outro lado, um que ja anda comigo há muito tempo, mas que felizmente é apenas mais uma faceta minha. Como se fosse só uma das muitas combinações de um caleidoscópio.

Friday, February 10, 2006

Os pauliteiros

Estou totalmente de acordo em preservar as nossas tradições, manter viva a essência rústica de Portugal, yadda yadda yadda... Mas será que queremos realmente que os turistas tomem conhecimento da dança dos pauliteiros? É que a me ver aquilo passa uma imagem um pouco... amaricada... Bom, mas para evitar acusações de deturpar o que quer que seja, vamos observar de perto a dita da "tradição":

Definição do dicionário de língua portuguesa:

Pauliteiro - indivíduo que toma parte na dança dos paulitos

Paulitos - Pedaço redondo de madeira que serve de fito em certos jogos, cada um dos paus usados na célebre dança dos paulitos (De pau x palito) - ora, isto não pode ser bom!

Todos sabem que na nossa linguagem popular "pau" e "palito" não são vocábulos que ficam muito bem juntos... Prossigamos:

A origem: "As famosas danças dos Pauliteiros de Miranda são uma vaga reminiscência das danças pírricas dos guerreiros da Grécia antiga. Imprevista, variada e colorida, a coreografia exige grande destreza dos dançarinos. É, na verdade, uma dança essencialmente guerreira e a sua origem não é certamente nova. Ela é tão velha como o Homem na Península Ibérica.Em mangas de camisa oito homens rudes trazem flores nos chapéus de largas abas, nas costas e nos ombros, encanastrados, fitas de várias cores berrantes. Cada uma representa uma flôr: a vermelha, uma rosa, a azul, uma violeta, a branca, uma açucena e a amarela representa o rei. Em cada mão um pau grosso como cabo de martelo, curto como batuta. Avançam, como se caminhassem em campo vasto, à frente de um exército e a dança rompe num arranco de corações em fogo."

(Alguém se lembrou daquele filme da treta, o "Alexandre", com o Colin Farrell (aquele em que a maioria dos gajos são gays), ou fui só eu?)

A indumentária: neste ponto acho que cada item fala por si e se expõe em toda a sua gaycidade, senão vejamos:

- 2 paus
- saia branca com largas fitas cosidas no cós (que prendados são os pauliteiros)
- meias brancas às risquinhas
- chapéu com flores ou penacho
- fitinhas coloridas (berrantes mesmo) cosidas em todo o fato que simbolizam flores (querem mais gay?)
- colete castanho com uma especie de remendos de renda cosidos nas partes da frente
- camisa branca (é tipo "Aldeia da roupa branca" revisited)
- xaile comprido, florido e berrante



A letra da música: é a coisa mais .... desinteressante que pode haver, como ouvir a Lili Caneças naquelas suas afirmações brilhantes do tipo "Estar vivo é o contrário de estar morto" (milhares de anos de evolução do ser humano para virmos dar a isto!, enfim...):

Laço del D. Rodrigo

Convidaran a D. Rodrigo
A pan y a vino.
Ya carnero por asar:
Cuanto más valia
No lo convidar!

Ainda por cima cantam em castelhano! Mas os totós não percebem que estão a dar aos ignorantes dos turistas mais uma oportunidade de dizerem que Portugal faz parte de Espanha???!! Dá mesmo vontade de lhes bater com os paus e depois "armazená-los" dentro dos donos!

A dança: Resumindo consiste num bando de homens de saias (que não se parecem minimamente com os escocêses, não confundir e ofender os coitados) aos saltinhos e às voltinhas a bater nos paus uns dos outros (aos sorrisinhos, hão-de reparar). A dança parece uma mistura do vira com o malhão mas com paus, e os dançarinos parecem o Esquadrão G, versão saloio do princípio do século XX.



Que me perdoem os habitantes de Miranda do Douro e todos os amantes dos pauliteiros por gozar com a coitada (mesmo coitada) da tradição, mas enfim, achei que devia expressar a minha opinião...

Be our guest

Para relembrar os bons velhos tempos - aquela infância despreocupada. Se bem que o pessoal do meu tempo (isto parece um anúncio daqueles antigos do minipreço) lembram-se disto em brasileiro (que afinal pelo menos não é a versão portuguesa com o Vítor Norte a fazer de narrador (da treta)) Enfim...

Lumiere:
Ma chere Mademoiselle,
it is with deepest pride and greatest pleasure
that we welcome you tonight.
And now we invite you to relax,
let us pull up a chair
as the dining room proudly presents - your dinner!
Be our guest!
Be our guest!
Put our service to the test
Tie your napkin 'round your neck, cherie
And we'll provide the rest
Soup du jour
Hot hors d'oeuvres
Why, we only live to serve
Try the grey stuff

Chip:It's delicious

Lumiere:Don't believe me?
Ask the dishes
They can sing, they can dance
After all, Miss, this is France
And a dinner here is never second best
Go on, unfold your menu
Take a glance and then you'll
Be our guest
Oui, our guest
Be our guest!

Lumiere and Chorus:Beef ragout
Cheese souffle
Pie and pudding "en flambe"

Lumiere:We'll prepare and serve with flair
A culinary cabaret!
You're alone
And you're scared
But the banquet's all prepared
No one's gloomy or complaining
While the flatware's entertaining
We tell jokes! I do tricks
With my fellow candlesticks

Chorus:And it's all in perfect taste
That you can bet
Come on and lift your glass
You've won your own free pass
To be out guest

Lumiere:If you're stressed
It's fine dining we suggest

Chorus:Be our guest!
Be our guest!
Be our guest!

Lumiere:Life is so unnerving
For a servant who's not serving
He's not whole without a soul to wait upon
Ah, those good old days when we were useful...
Suddenly those good old days are gone
Ten years we've been rusting
Needing so much more than dusting
Needing exercise, a chance to use our skills!
Most days we just lay around the castle
Flabby, fat and lazy
You walked in and oops-a-daisy!

Mrs Potts:It's a guest!
It's a guest!
Sakes alive, well I'll be blessed!
Wine's been poured and thank the Lord
I've had the napkins freshly pressed
With dessert, she'll want tea
And my dear that's fine with me
While the cups do their soft-shoein'
I'll be bubbling, I'll be brewing
I'll get warm, piping hot
Heaven's sakes! Is that a spot?Clean it up!
We want the company impressed
We've got a lot to do!
Is it one lump or two?
For you, our guest!

Chorus:She's our guest!

Mrs Potts:She's our guest!

Chorus:She's our guest!
Be our guest!
Be our guest!
Our command is your request
It's been years since we've had anybody here
And we're obsessed
With your meal, with your ease
Yes, indeed, we aim to please
While the candlelight's still glowing
Let us help you,
We'll keep going
Course by course, one by one
'Til you shout, "Enough! I'm done!"
Then we'll sing you off to sleep as you digest
Tonight you'll prop your feet up
But for now, let's eat up
Be our guest!
Be our guest!
Be our guest!
Please, be our guest!

Tuesday, February 07, 2006

Abaixo o S. Valentim

Chegados a Fevereiro, eis pois que nos aproximamos do dia de S. Valentim... (Senhor, dai-me paciência!)... Já não há pachorra para nada que tenha a ver com o maldito dia 14! É só mais uma desculpa para nos fazer gastar dinheiro. E uma pessoa três semanas antes do dito dia já não pode andar descançada, senão vejamos:

- Vamos a uma loja e está tudo decorado de vermelho (o que em certas pessoas com pouca paciência para esta chachada toda desperta certos instintos sanguinários) e a abarrotar de toda uma parafernália de artigos estandardizados para todos aqueles enamorados que ou não têem imaginação, ou falta-lhes dinheiro, ou simplesmente esqueceram-se e querem comprar algo à pressa sem pensarem muito nisso. São corações por todos os lados, peluches, chocolates, relógios de S. Valentim, estatuetas e semelhantes a dizer "I love you" ou "Para o/a melhor namorado/a", até as floristas estão com promoções! (pior, Indianos com uma desculpa plausível (? - isso julgam eles!) para nos impingirem a porcaria das rosas!). Ah, isto sem esquecer os postais (cartão ou sms), romances em destaque, promoções na secção de filmes românticos, yadda yadda yadda, o que for, tudo em nome (coff coff) do "romantismo".

Eu digo uma coisa, se algum dia um namorado meu me oferecer alguma coisa daquelas, o dito item vai direitinho pela janela! O que pode ser mais despersonalizado do que um peluche em promoção??? Se me derem prendas (e penso que nisto todos concordam comigo) ao menos que reflictam algo meu, algo que goste e tenha a ver comigo, senão seria apenas algo que poderia ser dado a qualquer outra pessoa. Não sou fria ou insensível, apenas romântica! Só não quero nada impessoal...

Mas a coisa não fica por aqui:

- A publicidade espalha-se de forma absurda e obcessiva, de forma a que ninguém possa andar por aí despreocupadamente sem pensar no assunto. Ele é cartazes nos autocarros e no metro, televisão (com aquela secção indiscreta de "Sugestões de S. Valentim"), rádio (nem em casa uma pessoa pode estar descançada!), até no cinema - só espero que não voltem a colocar o raio do anúncio das calças em colaboração com a H&M que dura cerca de cinco minutos e consiste numa flausina bem vestida(?) a cantar esganiçadamente, dizendo que não consegue viver sem o gajo que morreu, mas que afinal (e infelizmente) não tem ela própria a coragem para se suicidar... Este ano de certeza que até os jornais do Metro e Destak (essas minas diárias de informação!) irão falar disso (se é que não falam já).

- As revistas cor-de-rosa e de programação (qualquer que seja a diferença entre uma e a outra) circulam o tema de todas as formas que se conseguem lembrar - especial ênfase nos casais de famosos, receitas de amor, formas de seduzir o parceiro, sugestões de prendas, testes para verificar se ele é o amor da sua vida ou mesmo se se conheceram em vidas anteriores (temos que reconhecer que imaginação não lhes falta), como se arranjar para "aquela noite especial"...

- Entretanto as adolescentes ficam histéricas. As que têem namorado ficam o dia todo com os nervos à flor da pele até que algo aconteça para depois irem conferenciar com as amigas. As que não têem deitam as garras (e não só) de fora e tentam recuperar o dia com um engate de última hora que, dizem as revistas que as coitadas lêem, será a coisa mais romântica se for bem sucedido (mas quem é que não gostaria de começar a namorar no próprio dia de S. Valentim??? Oh, por favor...)

- Para finalizar, no final de um dia de trabalho (ou mesmo de um dia de não-fazer-um-cú) a última coisa que apetece é ter casais por todo o lado aos beijos (nesse dia mais longos e ousados que o habitual), e se uma pessoa tenta dar a entender que está incomodada, olham para ela como se fosse apenas mais uma solitária amargurada! Eh pah, não é para ser chata, mas é que mais parece o Dia Mundial da Descoberta da Técnica da Respiração Boca-a-boca! ou até o Dia Mundial do Vamos-Ver-Quem-É-Que-Consegue-Conter-A-Respiração-Por-Mais-Tempo! É que até causa aflição e falta de ar só de olhar...

Bom S. Valentim para vocês também...

Shall we dance?

There is a bit of insanity in dancing that does everybody a great deal of good. ~Edwin Denby

I would believe only in a God that knows how to dance. ~Friedrich Nietzsche

Never trust spiritual leader who cannot dance. ~Mr. Miyagi, The Next Karate Kid, 1994

We're fools whether we dance or not, so we might as well dance. ~Japanese Proverb

Enfim... Que dizer de novo sobre a dança? Já todos (ou quase) viram filmes que expressam, melhor do que qualquer post, a magia e energia da dança (Dirty dancing, Dirty dancing 2, Shall we dance?...)

A esmagadora maioria das pessoas afirma que adora dançar, que a dança é muito benéfica, tanto em termos de libertação de tensão acumulada, como na expressão de estados de espíritos. Mas então porque é que não dançamos?

Eu não sou o INE, mas pessoalmente acho que as razões principais que levam os portugueses a permanecer na ignorâcia/inércia são:

- Alguns estão simplesmente satisfeitos com a música comercial que passa e o tipo de dança "normal" e "moderna" de hoje em dia.

- Outros são tímidos e/ou acham que não têm jeito.

- Há também a tradicional desculpa de não irem por não terem par.

- Os homens, muitos deles pelo menos, parecem achar que aprender a dançar é coisa que põe em causa a sua masculinidade (o que é um total absurdo, visto que aquilo é uma mina de mulherio, é só escolher!)

A música costuma ser, de facto, um universo agreste de início - não conhecemos ninguém, não acertamos com os tempos nem com os passos, baralhamo-nos quando temos que fazer movimentos distintos com os braços e as pernas ao mesmo tempo, e é frustrante quando sentimos a música a chamar e no fim não atinamos com aquilo.

Mas os minimamente resistentes depressa dobram, ainda que com alguma dose de trabalho, o cabo das tormentas. Apartir daí é sempre em frente. Estas são pessoas que semanalmente descobrem em si um pouco mais de confiança neste mundo da música e que aprendem que o que se vê na televisão não é só para alguns.Vão conquistando o seu lugar na pista.

Quer dizer, aquilo que passa na televisão é muito difícil para nós, simples mortais que não estivemos anos a aprender aquilo, mas é possível fazê-lo a um nível mais mundano e menos rigoroso (até porque ninguém dança assim sem ser nos espectáculos).

Mas voltando ao tema principal, a dança não é apenas uma questão de mero divertimento, é também algo que nos permite descobrirmos um lado nosso totalmente novo - e isto não é só para os que se sentem incompletos ou perdidos -, porque a dança traz consigo um gosto, uma especiaria, uma expressividade nova (estou a começar a repetir-me, mas é a melhor forma de não recorrer à minha experiência pessoal, já me chamaram nomes suficientes!)

São todo um conjunto de ingredientes que se misturam - as luzes, a música, o par, a força do corpo do par contra a força do nosso (isto é sério, é o chamado efeito-mola), o reagir naturalmente aos sinais corporais do outro, ou até em animações, ver toda uma massa populacional "considerável" a mexer-se em perfeita sintonia.

Em termos clínicos a opinião dos especialistas é bastante positiva: dançar queima calorias, oferece resistência cardiovascular, ajuda a criar músculo nos membros inferiores e superiores, estimula a produção de endorfinas, liberta toxinas...

Em termos psicológicos e/ou sociais parece estar tudo a favor da dança: melhora a auto-estima, desenvolve o sentido de disciplina, estimula a criatividade, convida a convívio, deixa-nos abertos a novas amizades...

Por isso não se acanhem! Levantem o rabo do sofá e, sem medo, venham dançar. Não queiram ser como aquelas pessoas que, de cada vez que vêm um programa de dança dizem "Ai, quem me dera saber dançar! Se ao menos tivesse mais tempo/disponibilidade/saúde, menos idade...". Entrem num universo em que as palavras "vamos dançar?" têm um significado maior do que improvisar uma coreografia individual ao lado de outra pessoa na mesma empresa (ou como eu costumava dizer, com um bando de macacos em época de acasalamento!).

E se de princípio não correr bem, não se preocupem, como dizem algumas amigas salseiras:

"Um dia ainda vou aprender a dançar esta merda!" e

"Podemos não dançar muito bem, mas divertimo-nos imenso!"

Monday, February 06, 2006

Morangos azedos

Os Morangos com Açúcar estão a matar Shakespeare. A representação de "Romeu e Julieta" está tão má que até doí. E depois são os comentários estúpidos das personagens: "O quê?! Mas vamos representar em inglês arcaico?" (no comments).

E claro, o facto de ser "Romeu e Julieta". Não tenho absolutamente nada contra a peça, mas tem que ser sempre a mesma??? Até parece que foi a única coisa que o coitado escreveu... É impressionante! O fenómeno tornou-se no simples binómio Shakespeare = "Romeu e Julieta" ....Cliché, cliché, cliché....

PS: Se fosse eu a mandar naquilo punha-os logo a representar "Muito barilho por nada" ("Much ado about nothing"), mas também eu sou suspeita...

PS2: Também podia ser o "King Lear" só para ver a cena do velho armado em Julie Andrews em "Música no coração" a correr pelos campos com a coroa de flores...

Thursday, February 02, 2006

Dispersão

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai em mim feito ontem.

[... ]

O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave dourada
Bateu as asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro -
Não me acho no que projecto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada.
Sequinha dentro de mim.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.

[...]

(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)

E sinto que a minha morte -
Minha dispersão total -
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.

[...]

Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

[...]

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço...

........................................................
........................................................

Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba...

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Mario de Sá-Carneiro

Por razões óbvias de tamanho tomei a liberdade de cortar 9 quadras do poema

Wednesday, February 01, 2006

O meu bebé

Não há ninguém como o meu bebé. Ele é a pessoa que sei que independentemente do quão mal e/ou em baixo eu possa estar me consegue animar num tempo record de cinco segundos.

E vou ter sempre o meu bebé. Porque este não é daqueles que crescem. Esta será sempre bebé e eu estarei sempre aqui com ele. Mesmo quando é um frete, mesmo quando não me apetece mudar fraldas ou dar-lhe de comer, ou até quando não posso sair de casa para tomar conta dele.

Ele é indiviíduo esperto à sua maneira. Reconhece pessoas, decora brincadeiras, tem os seus próprios gostos e preferências e aprende a desenvencilhar-se de cada obstáculo que coloco no seu caminho.

O meu bebé sabe o que quer e qual o sítio certo das coisas. Quando me armo em mãe dele e o coloco no colo, empurra-me para longe, porque a mim não me compete embalá-lo.

O meu bebé baba-se. Eu adoro-o. E o meu bebé tem bigode. E eu adoro-o. O meu bebé puxa-me os cabelos. E eu não consigo resistir-lhe.

Porque eu e ele temos uma relação que nenhum de nós possui com mais ninguém. Porque apesar dos seus problemas consegue o casionalmente abraçar-me. Porque nunca nenhum som nem nenhuma imagem se poderão comparar ao riso do bebé.

A única contra-indicação que trouxe consigo foi ter aparentemente despertado o meu relógio biológico anos antes do que seria suposto e ter tornado a maternidade um ponto incontornável (e por agora bem distante) no meu caminho para a realização pessoal. Já são muitos anos a cuidar do bebé.

Mas quando chego ao quarto dele, lhe pego ao colo e o sinto agarrar-se a mim penso que todas as contra-indicações seriam sempre triviais, porque o meu bebé será sempre o meu bebé.

(Ao meu irmão)

Espanta-espíritos

(simbolos de existência)

Parece estranho, mas para mim é a imagem mais evidente de uma vida despreocupada – um espanta-espíritos – porque não há nada mais relaxante do que o som de um espanta-espíritos agitado pela brisa primaveril... conseguem imaginar? Uma sesta após o almoço e o ocasional tim-ti-lim-tim do espanta-espíritos lá fora... é o equivalente ao som da chuva no Inverno.

Desde criança que quando projecto o meu futuro surge-me sempre em primeiro lugar o som do metal ao sabor do vento. No fundo representa a vida que todos nós (ou quase todos) queremos ter: uma familia construída por nós, uma casa que nos reflicta em cada compartimento (o meu pequeno Éden, o meu casulo), uma existência pacata. Este é o meu lado diurno idealizado.

Já o nocturno divide-se em dois objectos distintos: a caneca de chá para as noites relaxantes, juntamente com um livro e uma cadeira de baloiço (credo, devem pensar que sou uma velha!), e.... uma pista de dança nas noites mais quentes – o que pode haver de melhor para a auto-estima do que uma noite de dança sem parar? Ainda por cima quando os pares dançam bem e se estabelece aquela química... não digo nada por mal, nem com segundos sentidos (a sério!) falo apenas de interpretação de sinais e de expressão na dança. Meninos, é só salsa!

São duas realidades antagónicas (a caneca de chá e a pista de dança) mas, felizmente, capazes de co-existir em harmonia. Uma para dias de semana, outra....para os tempos livres.

(De qualquer forma, o ponto essencial é mesmo o espanta-espíritos!)