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Wednesday, July 26, 2006

Adeus # 1

A aldeia estava ao fundo, quieta, sem respirar, os cães uivavam das eiras para o céu. Ao longe, na serra em frente, um comboio silvou pela noite fora. Ouvia-se perfeitamente o martelar das ferragens e o apito. E eu pensei: «Vai chover. Amanhã ou depois chove. Quando se ouve o comboio, chove sempre.»

-Porque escolheste esta vida?

A pergunta era tão clara que eu não achei uma sombra para me esconder. De outras vezes, outra gente me perguntara o mesmo. E nunca soube responder. Falavam-me de fora, de outro mundo, com uma linguagem diferente. E assim, as nossas ideias jogavam à cabra-cega. Eu próprio, quando queria entender-me, espreitando-me donde me não suspeitasse, não tinha razões talhadas à medida do meu sonho. Os princípios do senso, da justiça, talvez tivessem envelhecido e não pudessem acompanhar o meu anseio. Só metido dentro de mim eu me compreendo todo e sem razões.

Vergílio Ferreira

1 comment:

marina said...

arrepiei-me... talvez pelo minuto em que li...mas vergilio ferreira é assim, perfeito no tempo em que é lido...incrivel e mágico...

lindolindolindo

vergilio ferreira...quem me dera ser rica para comprar tudo! LOL

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