Pages

Friday, June 30, 2006

Regresso

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
-------------------------------------
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
-------------------------------------
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu paraíso.
------------------------------------
Miguel Torga



Isto das férias lembrou-me este poema. É como um regresso, um chegar ao quarto de todas as noites de malas cheias (com quê?, de que viagem?) e dizer "Aqui estou eu! finalmente em casa!"... E olho para o vazio... - aqui estou eu, eu e mais ninguém neste espaço... Eu, eu, eu natural, sem horários malucos, tempo para olhar para o meu reflexo... E é estranho, surreal mesmo, passar das noitadas e do marranço, e do corropio geral para esta inércia. Silencioso e sem gravidade, como na lua... Mas estou aqui. E vou apreciar estes meses comigo, nestes dias zen, sestas e tarefas de fada do lar, como quando era pequena...

*devido às manias deste blog tive de recorrer aos traços para simular a mudança de estrofe.

3 comments:

marina said...

sweet poem...e sim, as férias trazem aquele equilibrio entre as saidas e os dias calmos e que demoram a passar...

:) ************

sahara said...

"e olho para o vazio", mais preenchido do que parece, de certeza.

meses vagarosos na correria típica do verão. mas sabem bem finalmente gerir os dias consoante a nossa vontade.

está na altura de também nós nos deitarmos "no colo dos penedos" :)

beijo grande*

Tati said...

ás vezes chega a fazer impressão a diferença repentina entre o stress máximo e a calma repentina.