Elizabeth's spirits soon rising to playfulness again, she wanted Mr. Darcy to account for his having ever fallen in love with her. "How could you begin?" said she. "I can comprehend your going on charmingly, when you had once made a beginning; but what could set you off in the first place?"
"I cannot fix on the hour, or the spot, or the look, or the words, which laid the foundation. It is too long ago. I was in the middle before I knew I had begun."
Pode vir quem vier, vou continuar a imaginar o Colin Firth como o eterno (and so deeply adorable) Mr. Darcy... E viva Jane Austen, que me amolece o coração com um toque clássico e... witty! (isto como quem diz não é uma pinderiquice melosa de um escritor contemporâneo!)... Enfim... adorable!
Monday, July 31, 2006
Friday, July 28, 2006
Expressão de raiva
Os dedos ainda tremem. De vez em quando ainda escapa uma batida ao meu coração... Lágrimas que querem sair mas não conseguem... Lágrimas de raiva... Palavras entaladas e palavras que cá fora caem no vazio...
Todo este mostrengo que sinto borbulhar cá dentro. Quem me impede de sentir algum alívio quando respiro fundo. Até a linguagem me sai enferrujada, como que com falta de ar.
E sei que, quando daqui a umas horas reler o que aqui deixar, me vai soar a falso e a exagero. Talvez chegue mesmo a sentir culpa. No entanto agora não existem palavras para exprimir a raiva que se espalha pela pele. E não há chá, música ou livro que me acalme. Sinto um leão furioso, andando em circulos numa caverna escura. Não há beijinho ou palavra que sossegue esta besta...
Olho a criatura odiosa que se criou. Eu e ela frente a frente numa noite de tempestade. Tento desfazê-la como uma construção de areia pisada. Esmurro uma almofada à exaustão. Rasgo jornais velhos furiosamente. Atiro uma toalha de praia para cima da cama, uma e outra vez. Esmago as bolhas de ar do papel protector (aquele no qual objectos frágeis são embrulhados). Tudo o que não se parte ou avarie serve de ferramenta à minha raiva...
Minutos depois, exausta de todo o esforço catártico, deixo-me cair no chão, rolo para a direita e deixo-me adormecer ali, no meio dos escombros. Como se nada se tivesse passado... como um gato a dormitar à sombra de uma árvore...
Todo este mostrengo que sinto borbulhar cá dentro. Quem me impede de sentir algum alívio quando respiro fundo. Até a linguagem me sai enferrujada, como que com falta de ar.
E sei que, quando daqui a umas horas reler o que aqui deixar, me vai soar a falso e a exagero. Talvez chegue mesmo a sentir culpa. No entanto agora não existem palavras para exprimir a raiva que se espalha pela pele. E não há chá, música ou livro que me acalme. Sinto um leão furioso, andando em circulos numa caverna escura. Não há beijinho ou palavra que sossegue esta besta...
Olho a criatura odiosa que se criou. Eu e ela frente a frente numa noite de tempestade. Tento desfazê-la como uma construção de areia pisada. Esmurro uma almofada à exaustão. Rasgo jornais velhos furiosamente. Atiro uma toalha de praia para cima da cama, uma e outra vez. Esmago as bolhas de ar do papel protector (aquele no qual objectos frágeis são embrulhados). Tudo o que não se parte ou avarie serve de ferramenta à minha raiva...
Minutos depois, exausta de todo o esforço catártico, deixo-me cair no chão, rolo para a direita e deixo-me adormecer ali, no meio dos escombros. Como se nada se tivesse passado... como um gato a dormitar à sombra de uma árvore...
Thursday, July 27, 2006
Adeus # 3
Tenho pés para andar e olhos para ver. Posso sentar-me ou posso fechar os olhos e dizer que não há sol nem estradas. Mas eu sei que há estradas e sol e que os olhos vêem e os pés andam. Por mais que eu queira, quando sei por dentro que uma coisa está certa, eu tenho que saber que está certa. E ainda que os outros saibam que está errada, isso não me ajuda.
- Não me ajuda nada, Marta.
Mas como convencê-la? As razões são tanto o que somos, que só nascendo outra vez as poderemos renegar.
- Não me ajuda nada, Marta.
Mas como convencê-la? As razões são tanto o que somos, que só nascendo outra vez as poderemos renegar.
Vergílio Ferreira
Sonhos relembrados
[...] when she peeked in, Denise saw three couples talking quietly over small circular tables. In the corner was a jukebox playing a country song, the nasal baritone of the singer quieting as the final lyrics wound down. There was a short silence until the next song rotated through: "Unchained Melody". Denise stopped in her tracks when she recognized it, pulling on Tayor's hand.
"I love this song", she said.
"Would you like to go inside?"
She debated as the melody swirled around her.
"We could dance if you'd like," he added.
"No, I'd feel funny with all those people watching," she said after a beat. "And there's not enough room, anyway."
The street was devoid of traffic, the sidewalks deserted. A single light, set high on a pole, flickered slightly, illuminating the corner. Beneath the strains of the music from the bar drifted the sound of intimate conversations. Denise took a tentative step, away from the open door. The music was still evident behind them, playing softly, when Taylor suddenly stooped. She looked up at him curiously.
Without a word, he slipped one arm around her back, pulling her closer to him. With an endearing smile, he raised her hand to his mouth and kissed it, then lowered it into position. Suddenly realizing what was happening, but still not believing it, Denise took an awkward step before beginning to follow his lead.
For a moment, both were slightly embarrassed. But the music played steadily in the background, dispelling the awkwardness, and after a couple of turns Denise closed her eyes and leaned into him. Taylor's arm drifted up her back, and she could hear his breathing as they rotated in slow circles, swaying gently with the music. Suddenly it didn't matter whether anyone was watching. Except for his touch and the feel of his warm body against hers, nothing mattered at all, and they danced and danced, holding each other close beneath a flickering streetlight in the tiny town of Edenton.
Sim, é piegas, é lamechas, tresanda a chavão chorado dezenas de vezes... E literatura tão cor-de-rosa, quando é demais, faz danos demorados de reparar... É como uma catapulta para criar castelos de areia nas nuvens... Mesmo assim...
Relembro aquela noite, alguns anos atrás, quando quase tudo ainda negro para mim. Tinha medo, insegurança, e trazia sempre os sonhos (já tão corridos e gastos) comigo, onde quer que fosse. Naquela altura em que acreditava em príncipes encantados no verdadeiro sentido da palavra. Aquela noite... quando me pediste para estarmos a sós, dividiste comigo algodão doce e foste comigo na montanha russa. Quando me teceste elogios que ambos sabemos serem impossíveis naqueles dias (anos). Chamavas-me aquele nome que nunca ninguém mais chamou, lembraste? E quando ao passearmos à beira rio me ouviste desabafar como gostava da música que vinha de um bar. Era tarde e estávamos ambos cansados de um noite cheia. Mesmo assim sorriste para mim, pegaste na minha mão e dançaste comigo. Ali, no meio da rua, no meio da noite. E ainda nunca tinha dançado com ninguém, foste o meu primeiro par, sabias? Nenhum de nós tinha jeito para aquilo, ou melhor, eu tinha o meu coração no máximo, contigo e com a música, impossível de conseguir seguir-te da forma cândida como me seguravas.
E agradeço-te por essa noite. Por me teres feito sentir tão especial. Por hoje poder dizer com carinho que vivi um momento de filme...
"I love this song", she said.
"Would you like to go inside?"
She debated as the melody swirled around her.
"We could dance if you'd like," he added.
"No, I'd feel funny with all those people watching," she said after a beat. "And there's not enough room, anyway."
The street was devoid of traffic, the sidewalks deserted. A single light, set high on a pole, flickered slightly, illuminating the corner. Beneath the strains of the music from the bar drifted the sound of intimate conversations. Denise took a tentative step, away from the open door. The music was still evident behind them, playing softly, when Taylor suddenly stooped. She looked up at him curiously.
Without a word, he slipped one arm around her back, pulling her closer to him. With an endearing smile, he raised her hand to his mouth and kissed it, then lowered it into position. Suddenly realizing what was happening, but still not believing it, Denise took an awkward step before beginning to follow his lead.
For a moment, both were slightly embarrassed. But the music played steadily in the background, dispelling the awkwardness, and after a couple of turns Denise closed her eyes and leaned into him. Taylor's arm drifted up her back, and she could hear his breathing as they rotated in slow circles, swaying gently with the music. Suddenly it didn't matter whether anyone was watching. Except for his touch and the feel of his warm body against hers, nothing mattered at all, and they danced and danced, holding each other close beneath a flickering streetlight in the tiny town of Edenton.
Nicholas Sparks, The rescue
Sim, é piegas, é lamechas, tresanda a chavão chorado dezenas de vezes... E literatura tão cor-de-rosa, quando é demais, faz danos demorados de reparar... É como uma catapulta para criar castelos de areia nas nuvens... Mesmo assim...
Relembro aquela noite, alguns anos atrás, quando quase tudo ainda negro para mim. Tinha medo, insegurança, e trazia sempre os sonhos (já tão corridos e gastos) comigo, onde quer que fosse. Naquela altura em que acreditava em príncipes encantados no verdadeiro sentido da palavra. Aquela noite... quando me pediste para estarmos a sós, dividiste comigo algodão doce e foste comigo na montanha russa. Quando me teceste elogios que ambos sabemos serem impossíveis naqueles dias (anos). Chamavas-me aquele nome que nunca ninguém mais chamou, lembraste? E quando ao passearmos à beira rio me ouviste desabafar como gostava da música que vinha de um bar. Era tarde e estávamos ambos cansados de um noite cheia. Mesmo assim sorriste para mim, pegaste na minha mão e dançaste comigo. Ali, no meio da rua, no meio da noite. E ainda nunca tinha dançado com ninguém, foste o meu primeiro par, sabias? Nenhum de nós tinha jeito para aquilo, ou melhor, eu tinha o meu coração no máximo, contigo e com a música, impossível de conseguir seguir-te da forma cândida como me seguravas.
E agradeço-te por essa noite. Por me teres feito sentir tão especial. Por hoje poder dizer com carinho que vivi um momento de filme...
Adeus # 2
Mas quando penso no que eu fui, não me parece que tenha acontecido nada de extraordinário. É como se eu tivesse já nascido para isso. O meu pai às vezes dizia: «hoje vou ter sorte»; ou: «hoje vai-me acontecer uma desgraça». O mais difícil era convencer-se de que seria assim. Porque depois, durante o dia, só tinha de andar atento para achar a desgraça ou a sorte que profetizara. Mas nunca fui capaz de entender que arranjos da vida o faziam acreditar assim nos anúncios do seu destino. Havia sol ou chuva no céu, nem sempre o comer estava pronto a horas, às vezes o filho mais novo chorava sem razões adultas, ou qualquer coisa parecida. Mas é difícil pensar que factos desses decidissem das certezas de meu pai.
Sim, acredito que seja uma questão de perspectiva. O copo meio cheio ou meio vazio. Respirar bem fundo e sorrir, mesmo que seja um pouco tremido... Tentar não fazer "saltar a tampa"... Eu tento (curiosamente, embora nem sempre pareça)... Bolinhas de sabão por todo o lado!, coisas pequenas para não me "chegar a mostarda ao nariz"... Ver la vie en rose...
Vergílio Ferreira
Sim, acredito que seja uma questão de perspectiva. O copo meio cheio ou meio vazio. Respirar bem fundo e sorrir, mesmo que seja um pouco tremido... Tentar não fazer "saltar a tampa"... Eu tento (curiosamente, embora nem sempre pareça)... Bolinhas de sabão por todo o lado!, coisas pequenas para não me "chegar a mostarda ao nariz"... Ver la vie en rose...
Wednesday, July 26, 2006
Adeus # 1
A aldeia estava ao fundo, quieta, sem respirar, os cães uivavam das eiras para o céu. Ao longe, na serra em frente, um comboio silvou pela noite fora. Ouvia-se perfeitamente o martelar das ferragens e o apito. E eu pensei: «Vai chover. Amanhã ou depois chove. Quando se ouve o comboio, chove sempre.»
-Porque escolheste esta vida?
A pergunta era tão clara que eu não achei uma sombra para me esconder. De outras vezes, outra gente me perguntara o mesmo. E nunca soube responder. Falavam-me de fora, de outro mundo, com uma linguagem diferente. E assim, as nossas ideias jogavam à cabra-cega. Eu próprio, quando queria entender-me, espreitando-me donde me não suspeitasse, não tinha razões talhadas à medida do meu sonho. Os princípios do senso, da justiça, talvez tivessem envelhecido e não pudessem acompanhar o meu anseio. Só metido dentro de mim eu me compreendo todo e sem razões.
-Porque escolheste esta vida?
A pergunta era tão clara que eu não achei uma sombra para me esconder. De outras vezes, outra gente me perguntara o mesmo. E nunca soube responder. Falavam-me de fora, de outro mundo, com uma linguagem diferente. E assim, as nossas ideias jogavam à cabra-cega. Eu próprio, quando queria entender-me, espreitando-me donde me não suspeitasse, não tinha razões talhadas à medida do meu sonho. Os princípios do senso, da justiça, talvez tivessem envelhecido e não pudessem acompanhar o meu anseio. Só metido dentro de mim eu me compreendo todo e sem razões.
Vergílio Ferreira
Monday, July 24, 2006
Paredes abaixo
Sometimes I wonder about my life. I lead a small life. Well, valuable, but small. And sometimes I wonder... do I do it because I like it, or because I haven't been brave? So much of what I see reminds me of something I read in a book when shouldn't it be the other way around? I don't really want an answer, I just want to send this cosmic question out into the void. So... good night, dear void.
Desde sempre me senti assim. Imensas potencialidades observadas, à espera de acontecerem na minha vida. Como um interruptor prestes a ser ligado... E fazia notas, páginas atrás de páginas... caminhadas a dois na praia, dois números de roupa abaixo, eu transparente, imutável perante ambos os sexos..."Eu"... resume-se tudo a isto. O aperfeiçoamento daquilo que somos naquilo que desejamos ser...
Mas não naquela noite. Jamais naquela noite. Porque naquela noite eu fui uma borboleta nos últimos estádios de evolução... practicamente perfeita (como a Mary Poppins!)... Socialmente, fisicamente, emocionalmente... tão longe do meu casulo. Fui linda e fascinante, prendi tantos olhares com as minhas ancas, os meus braços, todo o corpo... E não, não tive vergonha. Ali estava eu, vermelho, preto e saltos altos, inteira naquele palco... No palco e na pista... e fui de todos os que dançaram comigo... não, não por amor, não por sonhos gastos... por mim! Pela descoberta do meu próprio corpo, da minha sensualidade, de como transformar asas de pato em asas de cisne...
E estou feliz! Mais do que isso - sou feliz! Feliz quando danço, feliz quando flirto comigo, feliz com amizades que surgem como um campo subitamente em flor... Paredes abaixo, feliz!
You've got mail
Desde sempre me senti assim. Imensas potencialidades observadas, à espera de acontecerem na minha vida. Como um interruptor prestes a ser ligado... E fazia notas, páginas atrás de páginas... caminhadas a dois na praia, dois números de roupa abaixo, eu transparente, imutável perante ambos os sexos..."Eu"... resume-se tudo a isto. O aperfeiçoamento daquilo que somos naquilo que desejamos ser...
Mas não naquela noite. Jamais naquela noite. Porque naquela noite eu fui uma borboleta nos últimos estádios de evolução... practicamente perfeita (como a Mary Poppins!)... Socialmente, fisicamente, emocionalmente... tão longe do meu casulo. Fui linda e fascinante, prendi tantos olhares com as minhas ancas, os meus braços, todo o corpo... E não, não tive vergonha. Ali estava eu, vermelho, preto e saltos altos, inteira naquele palco... No palco e na pista... e fui de todos os que dançaram comigo... não, não por amor, não por sonhos gastos... por mim! Pela descoberta do meu próprio corpo, da minha sensualidade, de como transformar asas de pato em asas de cisne...
E estou feliz! Mais do que isso - sou feliz! Feliz quando danço, feliz quando flirto comigo, feliz com amizades que surgem como um campo subitamente em flor... Paredes abaixo, feliz!
Saturday, July 22, 2006
Comunidade
Perfomances em palco - brrrrrrrrrr!... arrepios e estômago sensível. É bom ver todos em sintonia com o meu desespero! Sim, agora estamos todos nervosos e a timidez passa despercebida no meio do stress generalizado. E as pessoas procuram-me, falam comigo, mais do que antes.
É preciso treinar, ensaiar até à exaustão!... Ó Joana, vem ajudar com este passo, anda cá ver se isto está bem... Isto vai ser uma razia! (risos)... Aaaahhh! que nervos! E o que vamos levar vestido? Vamos encontrarmo-nos mais uma vez para um último ensaio (números de telemóvel trocados aos montes, como uma colheita!)...
Sabe tão bem, esta mobilização, esta proximidade repentina... Somos alunos, todos num saco comum, com aquele nervoso miudinho do palco...
É preciso treinar, ensaiar até à exaustão!... Ó Joana, vem ajudar com este passo, anda cá ver se isto está bem... Isto vai ser uma razia! (risos)... Aaaahhh! que nervos! E o que vamos levar vestido? Vamos encontrarmo-nos mais uma vez para um último ensaio (números de telemóvel trocados aos montes, como uma colheita!)...
Sabe tão bem, esta mobilização, esta proximidade repentina... Somos alunos, todos num saco comum, com aquele nervoso miudinho do palco...
Tuesday, July 18, 2006
A cidade e as serras - Vadiar...
- E tu, Zé Fernandes, que vais tu fazer?
- Eu?
Recostado na cadeira, com delícias, os dedos metidos nas cavas do colete:
- Vou vadiar, regaladamente, como um cão natural!
E mais uma vez repito: vivam as férias! Este pastelar pachorrentamente pelos dias (quase) sem calendário. Um mergulho profundo em livros, filmes e música. O relaxamento do cérebro, que alonga sem stress... Dormitar, vaguear, vadiar...
- Eu?
Recostado na cadeira, com delícias, os dedos metidos nas cavas do colete:
- Vou vadiar, regaladamente, como um cão natural!
E mais uma vez repito: vivam as férias! Este pastelar pachorrentamente pelos dias (quase) sem calendário. Um mergulho profundo em livros, filmes e música. O relaxamento do cérebro, que alonga sem stress... Dormitar, vaguear, vadiar...
Monday, July 17, 2006
Portuguesises
Com o calor dos últimos dias entrei num café para comprar dois gelados.
Era um solero e um magnun sandwich se faz favor.
(grito para o empregado próximo da arca frigorífica)
Ó TÓ! É UM SOLERO E UM MAGNU-SANDE AQUI PARA A MENINA.
(virando-se para mim)
Atão e é com ou sem fiambre?
(ronco!)
Sim... o humor rasca do homem comum... Valha-nos Deus! Eu dei um sorriso amarelo e saí imediatamente dali, revirando os olhos a mais um pontapé na língua portuguesa. Magnu-sande... Será assim tão impossível não "aportuguesar" termos estrangeiros? Porque será que temos sempre de cair nesse foleirismo nacional???
E o mais triste é que "sande" vem mesmo no dicionário...
Era um solero e um magnun sandwich se faz favor.
(grito para o empregado próximo da arca frigorífica)
Ó TÓ! É UM SOLERO E UM MAGNU-SANDE AQUI PARA A MENINA.
(virando-se para mim)
Atão e é com ou sem fiambre?
(ronco!)
Sim... o humor rasca do homem comum... Valha-nos Deus! Eu dei um sorriso amarelo e saí imediatamente dali, revirando os olhos a mais um pontapé na língua portuguesa. Magnu-sande... Será assim tão impossível não "aportuguesar" termos estrangeiros? Porque será que temos sempre de cair nesse foleirismo nacional???
E o mais triste é que "sande" vem mesmo no dicionário...
Thursday, July 13, 2006
Arroz colado ao tacho
Estou farta de falhar. Estou farta de críticas. Porque fiz pouca comida, ou porque fiz comida a mais, ou pequenos comentários do género "Ela ainda não sabe ver bem as medidas", como se eu não os ouvisse! Eu a preparar o jantar e alguém se queixa que a loiça não foi lavada, que já não há fiambre, que os fios da internet "continuam ali". E pouco depois vem o comentário garantido - Se não sou eu a fazer tudo nesta casa... como se eu fosse uma aleijadinha! E eu respondo que estive ocupada.
A fazer o quê?, Quando eu cheguei estavas sentada no sofá a ler!
Tinha acabado de chegar, só queria descançar um bocadinho antes de ir para a cozinha. Além disso eu estou de férias! Não me estou a cortar a nada, mas podias deixar-me descançar um bocado... Eu também não ando propriamente na rambóia para levar com sermões sobre não fazer nada!
Ah, vê-se mesmo que estás mal-habituada! Isto tem de mudar, Joana, já não és uma miúda!...
E eu não percebo o sermão... nem as críticas! Faço o que me pedem sem grande alarido, custa-me deixar os meus planos para um "mais tarde" que sinceramente não sei se vou ver chegar, mas não ando por aí a choramingar pelos cantos ou a fazer birras e arranjar desculpas para não fazer as minhas tarefas. Se me corre mal, se surgem imprevistos, se o tempo não chega para tudo afinal, será mesmo necessário chamarem-me inesperiente e mimada???
Deixei de ir ao cinema para ir buscar uma criança que se recusa a comer o que eu cozinho (o cúmulo da crítica) e fazer um jantar que acabou por ficar estragado. E em vez de encorajamento só vai haver críticas... E estou cansada! Anos e anos a fazer arroz e este acaba sempre colado ao fundo do tacho...
A fazer o quê?, Quando eu cheguei estavas sentada no sofá a ler!
Tinha acabado de chegar, só queria descançar um bocadinho antes de ir para a cozinha. Além disso eu estou de férias! Não me estou a cortar a nada, mas podias deixar-me descançar um bocado... Eu também não ando propriamente na rambóia para levar com sermões sobre não fazer nada!
Ah, vê-se mesmo que estás mal-habituada! Isto tem de mudar, Joana, já não és uma miúda!...
E eu não percebo o sermão... nem as críticas! Faço o que me pedem sem grande alarido, custa-me deixar os meus planos para um "mais tarde" que sinceramente não sei se vou ver chegar, mas não ando por aí a choramingar pelos cantos ou a fazer birras e arranjar desculpas para não fazer as minhas tarefas. Se me corre mal, se surgem imprevistos, se o tempo não chega para tudo afinal, será mesmo necessário chamarem-me inesperiente e mimada???
Deixei de ir ao cinema para ir buscar uma criança que se recusa a comer o que eu cozinho (o cúmulo da crítica) e fazer um jantar que acabou por ficar estragado. E em vez de encorajamento só vai haver críticas... E estou cansada! Anos e anos a fazer arroz e este acaba sempre colado ao fundo do tacho...
Páginas que escapam por entre os dedos
Estas leituras sabem a pouco! Este tempo para ler não chega. Eu não chego para os livros!
Sempre estive segura deste amor, sempre pensei (e sempre me foi dito) que leio muito. Hoje em dia sinto-me uma fraude. Qual leitora, qual carapuça! Longe vão os dias em que namorar os livros da Europa-América era parte do dia-a-dia, em que todas as noites havia chá e um livro, indefinidamente pela noite dentro, em que pensava conseguir abarcar tudo (os livros recentes, os clássicos, os antigos, os célebres, os desejados, os nacionais, os internacionais...).
What truly matters is not the destination but the ride. Sim, isto não é nenhuma maratona, e embora aprecie cada livro em/por si mesmo, não consigo deixar de pensar que estou a "ficar para trás"... De repente as minhas singelas cinquenta páginas por dia já não são suficientes (isto quando sequer existem páginas no meu dia).
Este curso tem destas coisas! Por todos os lados pessoas que devoram livros numa noite, numa lista infindável de livros lidos, como um papão literário com uma agenda actualizada! E eu sinto-me minúscula, revejo nelas a minha sede que agora fica quase sempre interrompida. E lá no fundo sinto uma culpa estranha, porque antes havia só livros, agora há um mundo de coisas e pessoas. Porque hoje quando me deito já não tenho forças para me deixar abraçar por aquelas páginas...
Sempre estive segura deste amor, sempre pensei (e sempre me foi dito) que leio muito. Hoje em dia sinto-me uma fraude. Qual leitora, qual carapuça! Longe vão os dias em que namorar os livros da Europa-América era parte do dia-a-dia, em que todas as noites havia chá e um livro, indefinidamente pela noite dentro, em que pensava conseguir abarcar tudo (os livros recentes, os clássicos, os antigos, os célebres, os desejados, os nacionais, os internacionais...).
What truly matters is not the destination but the ride. Sim, isto não é nenhuma maratona, e embora aprecie cada livro em/por si mesmo, não consigo deixar de pensar que estou a "ficar para trás"... De repente as minhas singelas cinquenta páginas por dia já não são suficientes (isto quando sequer existem páginas no meu dia).
Este curso tem destas coisas! Por todos os lados pessoas que devoram livros numa noite, numa lista infindável de livros lidos, como um papão literário com uma agenda actualizada! E eu sinto-me minúscula, revejo nelas a minha sede que agora fica quase sempre interrompida. E lá no fundo sinto uma culpa estranha, porque antes havia só livros, agora há um mundo de coisas e pessoas. Porque hoje quando me deito já não tenho forças para me deixar abraçar por aquelas páginas...
Regresso
Did I request thee, Maker, from my clay
To mould me man? Did I solicit thee
From the darkness to promote me? ------
Paradise Lost
Regresso mais uma vez (doentiamente, como um láudano indispensável) àquele romance... E a maioria das pessoas vê matéria, vê estudo, vê (quem não conhece) um gosto literário extremamente mórbido e um desejo de escandalizar... Independentemente do que possam pensar, este é um dos meus romances de eleição (para sempre, quem sabe...)
To mould me man? Did I solicit thee
From the darkness to promote me? ------
Paradise Lost
Regresso mais uma vez (doentiamente, como um láudano indispensável) àquele romance... E a maioria das pessoas vê matéria, vê estudo, vê (quem não conhece) um gosto literário extremamente mórbido e um desejo de escandalizar... Independentemente do que possam pensar, este é um dos meus romances de eleição (para sempre, quem sabe...)
Frankenstein
Wednesday, July 12, 2006
Victor Victoria - Toddy
Toddy: Oh God! There's nothing more inconvinient than an old queen with a head cold!
Comecei a ver o filme por piada no TCM. Gostei, nunca tinha visto o princípio ou o fim, mas adorava as poucas cenas que conhecia. Promoção no El Cort Inglés e pronto! Corri para casa como uma criança pequena. Gostei tanto que vi duas vezes seguidas. E viva as comédias e musicais antigos! Como se costuma dizer por aqui - IT'S ADORABLE!!!
Comecei a ver o filme por piada no TCM. Gostei, nunca tinha visto o princípio ou o fim, mas adorava as poucas cenas que conhecia. Promoção no El Cort Inglés e pronto! Corri para casa como uma criança pequena. Gostei tanto que vi duas vezes seguidas. E viva as comédias e musicais antigos! Como se costuma dizer por aqui - IT'S ADORABLE!!!
Saturday, July 08, 2006
"Living"- room
E ele voltou para casa. Depois de uma semana sozinha em casa. Não quero parecer fria, mas não tinha muitas saudades. Sinto-me ingrata e insensível com a afirmação anterior. Mas é verdade! Claro que senti saudades, gosto muito dele, mas aquele temperamentozinho por vezes bem que podia ficar no estrangeiro! Enfim... Não é que não tenha saudades, mas estava a gostar tanto desta semana sozinha!... Poder ver os Friends na televisão grande, sentar-me quietinha a ler na cadeira de baloiço, dançar na sala, ver Shakespeare ou filmes antigos sem comentários (... comer no sofá...), acender velas enquanto danço, andar descalça e de camisa de noite pela casa, tomar um banho de espuma na casa de banho principal... Senti-me tão natural, independente e espontânea nestes dias... Não que não seja quando ele cá está, mas é diferente, não gosto de estar sempre a pedir permissão como uma criança pequena, muito menos de ouvir aqueles comentários humorísticos quando sou surpreendida a dançar na cozinha com um tacho na mão ou enquanto lavo a loiça! (Este desejo) Já não é aquela fúria de adolescente em estar sozinha, só para ninguém me dizer a que horas me deitar ou para poder comer tudo o que quiser. Agora é mais apenas o querer relaxar, ser mais eu, provar que estou um pouco "mais" pronta para ter a minha própria casa, reler o Keeping life simple e aplicar algumas sugestões no momento sem pensar "No futuro..." ............ No futuro...
Hoje levantei-me, arrumei a sala, fiz o almoço e preparei-me para a vida em equipa!... Paciência, Shakespeare, Oscar Wilde e James Goldman ficam para as noites de sábado..
Hoje levantei-me, arrumei a sala, fiz o almoço e preparei-me para a vida em equipa!... Paciência, Shakespeare, Oscar Wilde e James Goldman ficam para as noites de sábado..
Friday, July 07, 2006
Paz de espírito
Depois da desilusão causada e das muitas lágrimas derramadas vieram os problemas de consciência. Eles que no fundo sempre estiveram lá, acorroendo-me por dentro com dúvidas. Queria tanto voltar atrás!... Comecei a pensar e se sim? e se não? e se estiver errada? e se estiver mesmo certa?... Fiz contas, listas e planos para me acalmar, desenterrei o orgão do meio de toda a tralha na varanda e verifiquei que notas tinha que dar... eram altas, complicadas de atingir, mas talvez fosse capaz... talvez fosse mesmo possível voltar atrás! Oh, seria tão bom! Queria seguir o meu coração sem pensar em nada, voltar atrás, apagar a desilusão e recuperar o que é (era) meu! E pensar que no final tudo ficaria bem, que a fé por si é suficiente para nos fazer vencer. Mas não podia ser assim. Não sou irresponsável ao ponto de ignorar que nem sempre a vontade é suficiente, que por muito que desejemos nem sempre o nosso corpo consegue dissipar o cansaço para seguir os nossos desejos. E fiquei paralisada. Triste por estar assim, insegura sobre se seria correcto voltar atrás... Dúvidas que se atropelam na minha mente...
Até que algo inesperado aconteceu! Como se o Destino tivesse atirado uma moeda ao ar por mim. Fiquei doente! Uma "linda" úlcera péptica para acalmar a minha consciência! E embora chorasse com dores até encontrar uma farmácia de serviço a minha mente estava finalmente em paz... Não podia voltar atrás e pronto! Por muito que custasse agora ninguém me iria julgar ou pensar mal de mim. A verdade é que eu sentiamente finalmente justificada através da minha dor. A desilusão iria dar lugar a pena e lamento. A culpa desvaneceu-se. Agora, medicada e em paz, estou feliz! Fechada em casa e sem tarefas domésticas por dois dias, um livro sempre por perto, dvds empilhados na mesa da sala, eu na minha cadeirinha de baloiço...
Até que algo inesperado aconteceu! Como se o Destino tivesse atirado uma moeda ao ar por mim. Fiquei doente! Uma "linda" úlcera péptica para acalmar a minha consciência! E embora chorasse com dores até encontrar uma farmácia de serviço a minha mente estava finalmente em paz... Não podia voltar atrás e pronto! Por muito que custasse agora ninguém me iria julgar ou pensar mal de mim. A verdade é que eu sentiamente finalmente justificada através da minha dor. A desilusão iria dar lugar a pena e lamento. A culpa desvaneceu-se. Agora, medicada e em paz, estou feliz! Fechada em casa e sem tarefas domésticas por dois dias, um livro sempre por perto, dvds empilhados na mesa da sala, eu na minha cadeirinha de baloiço...
Wednesday, July 05, 2006
When the heart goes crack...
Chorei no caminho para casa. Fiz o que tinha de ser feito. Doeu. Muito, mas era assim que tinha de ser! Olhei directamente para a cara dele (pacífica e ocupadamente cheia de planos para o grande dia) e disferi o golpe. Apartir daí o mundo pareceu ruir (o dele pela primeira vez, o meu uma vez mais). Sentou-se no sofá e olhou para mim durante quinze minutos, de boca aberta, sem reacção ou palavras. E a mim só me apetecia chorar. Acabara de fazer justamente aquilo que prometera nunca fazer - desiludi-lo. Pior, mentir-lhe.
Quis para o tempo, fazer rewind e mudar aquele momento. Comecei a pedir desculpa, uma e outra vez, tentando tapar aquele buraco com palavras. Em vão. A desilusão dele pesava-me, e a antecipação das desilusões que se iriam seguir por parte do tenor e do barítono só tornavam as minhas lágrimas mais ácidas e pesadas. Sobretudo do barítono, que já esperava por mim há tantos meses e agora... nada! É uma coisa privarmo-nos de fazer aquilo que gostamos por razões que nos ultrapassam, é outra muito pior quando isso acaba por também privar os outros de fazerem o mesmo. Queria voltar atrás, dizer que aquilo não passava de uma brincadeira, que não era verdade... Mas como?? O meu comboio não volta para trás, mas não tenho forças para ficar nesta estação... Queria tanto que as coisas fossem de outra maneira...
Queria cantar! Queria muito... voltar àquele que foi o meu primeiro palco. Aquele espaço que já foi meu, por tantos anos. Voltar a uma audiência que já não vejo há tanto tempo, uma audiência que nem sabe que o é! Mostrar que já não sou a menina tímida que deixou aquela escola há dois anos, trazer orgulho a quem me viu crescer ali. Amar aquelas paredes... e cantar! Livre, autónoma, feliz!...
Mas a realidade são quatro paredes e um rosto desiludido. Este foi um golpe inesperado. Podia ter vindo de qualquer lado, de qualquer pessoa, menos de mim. Eu, que era a sua estrelinha, que estava sempre a crescer, a evoluir. Eu que estava sempre lá, constante e assídua, como se não existisse mais nada na minha vida. Eu, que iria levar para aquele palco o dobro dos restantes alunos... Tantas esperanças deitadas por terra! Neste momento, por muito que vasculhasse, a caixa de Pandora estava vazia, nem uma migalha de esperança restava!
Que hei-de fazer agora?
e eu calada, sem saber o que responder, como uma criança arrependida, de cabeça baixa e lágrimas iminentes...
E a mentira... Como me pesa a mentira... Mas foi a única forma de os poupar a um sofrimento maior. Se tivesse dito a verdade (a minha insegurança, a minha fraqueza, o medo, a certeza de fracasso quando nada está pronto e ninguém o admite...) como iriam acreditar? Como aceitariam que faço o que faço pelo melhor, poupando-nos a todos a uma vergolha pior que a ausência, sem pensarem apenas que sou cobarde? Não, não é o caso - cobarde é quem tem medo de enfrentar um desafio mesmo sabendo que há hipóteses de sucesso. Mas não aqui! Aqui reina apenas a certeza de que não há forças para superar o cansaço, o nervosismo... Quando as notas me causam tonturas e falta de ar, acho apenas coerente ter a humildade para admitir que não estou pronta.
E tento arranjar soluções, remendos que tapem a desilusão. E surgem ideias - remendos - e mais uma vez dói. É um alívio diminuir este mal, mas custa verificar que, afinal, talvez eu seja substituível... A minha voz é apenas uma voz... Dói saber que não estarei lá, depois de tanto trabalho, saber que estes amores serão para nada, que estas personagens ficarão trancadas em mim... no escuro... Eu, no escuro com elas...
Quis para o tempo, fazer rewind e mudar aquele momento. Comecei a pedir desculpa, uma e outra vez, tentando tapar aquele buraco com palavras. Em vão. A desilusão dele pesava-me, e a antecipação das desilusões que se iriam seguir por parte do tenor e do barítono só tornavam as minhas lágrimas mais ácidas e pesadas. Sobretudo do barítono, que já esperava por mim há tantos meses e agora... nada! É uma coisa privarmo-nos de fazer aquilo que gostamos por razões que nos ultrapassam, é outra muito pior quando isso acaba por também privar os outros de fazerem o mesmo. Queria voltar atrás, dizer que aquilo não passava de uma brincadeira, que não era verdade... Mas como?? O meu comboio não volta para trás, mas não tenho forças para ficar nesta estação... Queria tanto que as coisas fossem de outra maneira...
Queria cantar! Queria muito... voltar àquele que foi o meu primeiro palco. Aquele espaço que já foi meu, por tantos anos. Voltar a uma audiência que já não vejo há tanto tempo, uma audiência que nem sabe que o é! Mostrar que já não sou a menina tímida que deixou aquela escola há dois anos, trazer orgulho a quem me viu crescer ali. Amar aquelas paredes... e cantar! Livre, autónoma, feliz!...
Mas a realidade são quatro paredes e um rosto desiludido. Este foi um golpe inesperado. Podia ter vindo de qualquer lado, de qualquer pessoa, menos de mim. Eu, que era a sua estrelinha, que estava sempre a crescer, a evoluir. Eu que estava sempre lá, constante e assídua, como se não existisse mais nada na minha vida. Eu, que iria levar para aquele palco o dobro dos restantes alunos... Tantas esperanças deitadas por terra! Neste momento, por muito que vasculhasse, a caixa de Pandora estava vazia, nem uma migalha de esperança restava!
Que hei-de fazer agora?
e eu calada, sem saber o que responder, como uma criança arrependida, de cabeça baixa e lágrimas iminentes...
E a mentira... Como me pesa a mentira... Mas foi a única forma de os poupar a um sofrimento maior. Se tivesse dito a verdade (a minha insegurança, a minha fraqueza, o medo, a certeza de fracasso quando nada está pronto e ninguém o admite...) como iriam acreditar? Como aceitariam que faço o que faço pelo melhor, poupando-nos a todos a uma vergolha pior que a ausência, sem pensarem apenas que sou cobarde? Não, não é o caso - cobarde é quem tem medo de enfrentar um desafio mesmo sabendo que há hipóteses de sucesso. Mas não aqui! Aqui reina apenas a certeza de que não há forças para superar o cansaço, o nervosismo... Quando as notas me causam tonturas e falta de ar, acho apenas coerente ter a humildade para admitir que não estou pronta.
E tento arranjar soluções, remendos que tapem a desilusão. E surgem ideias - remendos - e mais uma vez dói. É um alívio diminuir este mal, mas custa verificar que, afinal, talvez eu seja substituível... A minha voz é apenas uma voz... Dói saber que não estarei lá, depois de tanto trabalho, saber que estes amores serão para nada, que estas personagens ficarão trancadas em mim... no escuro... Eu, no escuro com elas...
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