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Wednesday, July 05, 2006

When the heart goes crack...

Chorei no caminho para casa. Fiz o que tinha de ser feito. Doeu. Muito, mas era assim que tinha de ser! Olhei directamente para a cara dele (pacífica e ocupadamente cheia de planos para o grande dia) e disferi o golpe. Apartir daí o mundo pareceu ruir (o dele pela primeira vez, o meu uma vez mais). Sentou-se no sofá e olhou para mim durante quinze minutos, de boca aberta, sem reacção ou palavras. E a mim só me apetecia chorar. Acabara de fazer justamente aquilo que prometera nunca fazer - desiludi-lo. Pior, mentir-lhe.

Quis para o tempo, fazer rewind e mudar aquele momento. Comecei a pedir desculpa, uma e outra vez, tentando tapar aquele buraco com palavras. Em vão. A desilusão dele pesava-me, e a antecipação das desilusões que se iriam seguir por parte do tenor e do barítono só tornavam as minhas lágrimas mais ácidas e pesadas. Sobretudo do barítono, que já esperava por mim há tantos meses e agora... nada! É uma coisa privarmo-nos de fazer aquilo que gostamos por razões que nos ultrapassam, é outra muito pior quando isso acaba por também privar os outros de fazerem o mesmo. Queria voltar atrás, dizer que aquilo não passava de uma brincadeira, que não era verdade... Mas como?? O meu comboio não volta para trás, mas não tenho forças para ficar nesta estação... Queria tanto que as coisas fossem de outra maneira...

Queria cantar! Queria muito... voltar àquele que foi o meu primeiro palco. Aquele espaço que já foi meu, por tantos anos. Voltar a uma audiência que já não vejo há tanto tempo, uma audiência que nem sabe que o é! Mostrar que já não sou a menina tímida que deixou aquela escola há dois anos, trazer orgulho a quem me viu crescer ali. Amar aquelas paredes... e cantar! Livre, autónoma, feliz!...

Mas a realidade são quatro paredes e um rosto desiludido. Este foi um golpe inesperado. Podia ter vindo de qualquer lado, de qualquer pessoa, menos de mim. Eu, que era a sua estrelinha, que estava sempre a crescer, a evoluir. Eu que estava sempre lá, constante e assídua, como se não existisse mais nada na minha vida. Eu, que iria levar para aquele palco o dobro dos restantes alunos... Tantas esperanças deitadas por terra! Neste momento, por muito que vasculhasse, a caixa de Pandora estava vazia, nem uma migalha de esperança restava!
Que hei-de fazer agora?
e eu calada, sem saber o que responder, como uma criança arrependida, de cabeça baixa e lágrimas iminentes...

E a mentira... Como me pesa a mentira... Mas foi a única forma de os poupar a um sofrimento maior. Se tivesse dito a verdade (a minha insegurança, a minha fraqueza, o medo, a certeza de fracasso quando nada está pronto e ninguém o admite...) como iriam acreditar? Como aceitariam que faço o que faço pelo melhor, poupando-nos a todos a uma vergolha pior que a ausência, sem pensarem apenas que sou cobarde? Não, não é o caso - cobarde é quem tem medo de enfrentar um desafio mesmo sabendo que há hipóteses de sucesso. Mas não aqui! Aqui reina apenas a certeza de que não há forças para superar o cansaço, o nervosismo... Quando as notas me causam tonturas e falta de ar, acho apenas coerente ter a humildade para admitir que não estou pronta.

E tento arranjar soluções, remendos que tapem a desilusão. E surgem ideias - remendos - e mais uma vez dói. É um alívio diminuir este mal, mas custa verificar que, afinal, talvez eu seja substituível... A minha voz é apenas uma voz... Dói saber que não estarei lá, depois de tanto trabalho, saber que estes amores serão para nada, que estas personagens ficarão trancadas em mim... no escuro... Eu, no escuro com elas...

3 comments:

marina said...

foi a decisão que tomaste. sozinha, pois ninguém a podia tomar por ti. entendo o teu lado. agiste bem. não querias a outra desilusão, o outro lado negro. mas também entendo o que te levou a ponderar. tudo marcado, a confiança depositada em ti... enfim, a decisão foi tomada e mesmo que agora custe, a seu tempo vai passar, vai sarar. o entendimento e a aceitação vão passar. tal como a desilusão. deixa as lágrimas cairem que elas aliviam o peso da alma. depois, levanta a cabeça. e lembra-te, se cantares, canta bem alto :)

hug ***************

sancie said...

well, sometimes a girl's got to do what a girl's got to do, I suppose...

don't worry, it will blow over. things always do...

hang on in there;)

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Tati said...

acredito que foi uma decisão difícil para ti. mas tinhas de a fazer...tinhas de a tomar sozinha e por vezes não há alternativa e tems msm d magoar as pessoas...acredito que tomaste a decisão q achavas melhor. agora suspira e bola para a frente! ha mais pela frente...não desanimes...fizeste o q tua consciencia mandou. se calhar serias maior desilusao se tivesses ido e dps não gstasses do teu trabalho em palco e dsiludi-los à mma.
bjs hold on strong;)