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Tuesday, February 14, 2006

Duetos

É dia de S. Valentim. Tu colocas-te ligeiramente atrás de mim para leres sobre o meu ombro. Dizes que te esqueceste do teu exemplar. Que conveniente! Não digo nada. Tento apenas concentrar-me. O piano, o compasso, o tom - entrei no meu elemento...

Até que tu começas a cantar e destróis todas as minhas defesas. Parvo! Como é possivel que fique a tremer apenas por te ouvir cantar ao meu ouvido? Perco a concentração, as pernas tremem e parece que todo o meu balanço se foi. No teu canto dizes que me amas, que me protegerás sempre, que nunca me deixarás e serás sempre meu, para sempre. Sem conseguir olhar para ti, respondo-te no mesmo tom, peço que repitas novamente o teu amor, colocando o meu coração na voz.

Se olhasses directamente para mim verias os olhos brilhantes, e se estivesses dentro de mim notarias a dificuldade que tenho em controlar a minha respiração. Naquela sala tudo o que existe para além de nós parece desaparecer.

Quero acreditar que o que existe naquele momento é real, que o que dizes é mesmo para mim, que não é só mais um exercicio sem significado para ti. Mas no fundo sei que nada é verdade... tu não sentes nada por mim e eu não sei nada sobre ti. Já devia saber comportar-me como uma "profissional", mas é mais forte que eu.

Tu não cantas para mim mas para a minha personagem e eu... eu quero cantar para ti, mesmo sabendo que nunca andaria contigo. Este momento já foi adiado tantas vezes que o meu coração não consegue acreditar que este é apenas mais um alarme falso. Por mim, deixava as partituras cairem no chão, virava-me para ti e beijava-te. Agarro-as com força, como que para me impedir de o fazer. Todo o meu corpo parece debater-se com as minhas próprias ordens. Só por hoje, pede uma voz dentro de mim, só por hoje que é S. Valentim...

Devido às respostas do post anterior estive quase para não colocar este aqui. Não estou à espera de consolação, mas achei importante deixar aqui o post na mesma, pelo menos para esclarecer algumas mentes teimosas relativamente ao meu estado de "derretimento" quando certa pessoa começa a cantar - não tem a ver com o cantor, mas sim com a personagem, e comigo.

2 comments:

marina said...

:) num momento menos bom para mim mandaste-me este texto. gostei muito na altura, mas agora parece que gosto ainda mais!

e não faço mais comentários (aqui), porque já comentei e porque tu sabes o que acho, e também porque não há necessidade!

:) ***************

sahara said...

está muito bom manata, gostei imenso :)
ficções ou realidade, em texto é tudo imaginação, é tudo palavra vinda de nós. e os factos pouco importam. importa a veracidade do texto. e como arrebata quem a lê :)

once again, gostei bastante.

beijo grande! *