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Monday, April 03, 2006

Regresso a casa

[domingo]

Chegou ao fim... Depois de um fim-de-semana alucinante o "The End" surgiu (muito) bruscamente. Num segundo a dançar há horas, no noutro nada... vazio, inactividade, inércia, absurdo...

O congresso mundial de salsa... quantas saudades já! (e ainda nem passou uma hora). O processo de saudosismo (inevitável) desencadeia-se assim que insiro a chave na porta (não, talvez tivesse sido quando dissemos adeus, mas a chave na porta ainda doeu mais, ou melhor, doeu em cima da ferida que já estava a existir). O espaço é o mesmo, mas a minha realidade é outra.

Pelo (longo) caminho até casa (desde a Cidade Universitária até ao Saldanha, a pé) venho a fazer partes de coreografias, abano os ombros e as ancas, faço lançamento de braços, quedas simuladas, etc... São oito da noite. As velhinhas que encontro na rua (provavelmente vindas da missa) olham para mim com espanto, ou mesmo choque, com aquele ar que diz "Esta juventude está perdida!". Os homens dos carros que passam assobiam e gritam coisas que não consigo perceber. Nem sequer estou a ouvir. Estou noutro mundo e a estrada é a minha pista.

Chego a casa (não "por fim"). Subitamente vejo tudo com repulsa e torno-me agressiva. Como um animal fora do seu habitat natural. Pouso a mala no chão. Não a consigo desfazer. Vou tomar banho. Visto-me com roupas "estranhas". Vou à cozinha. No meu cérebro algo dispára como um alarme. "Não toques na sopa, nem nas colheres, nem nos tachos, nem nos pacotes de leite, nem em coisa nenhuma!" Tocar significa voltar ao normal, abraçar de novo a minha realidade de todos os dias. (Como se tudo estivesse à espera de acordar com o meu toque, milhões de objectos "belas-adormecidas").

Suspiro... As memórias começam a afastar-se. Não. Não quero. Agarro (o quê?!) com força, como uma criança a um peluche. Não há nada que possa fazer. Então faço nada! Fico quieta (não sei quanto tempo) no meio do meu quarto. Assim, de pé. Peso do corpo nas pontas dos dedos, como se tivesse sido sempre assim.

Estou triste. E zangada comigo por estar triste. Tudo tem o seu fim e depois de tanta alegria seria estúpido pensar em tudo o que aconteceu com tristeza só porque acabou.

(agora) Surge no horizonte, certa e nefasta, a existência de dois testes daqui a três dias. Devia pensar nisso, mas não consigo. Só quero dançar. Só quero pensar em dançar. Sinto-me culpada por não ser mais responsável (e ter a mesma reacção que tinha quando era pequena e as minhas festas de aniversário acabavam), mas "it's beyond my control".

É estranho... não só a realidade presente, mas o que aconteceu. Tanto tempo dentro daquele auditório (e espaço circundante), com as mesmas pessoas que quase me sentia num daqueles reality shows em que as pessoas ficam isoladas no resto do mundo. Hoje de manhã já saudava as pessoas com um "Bom dia!" tão natural que parecia que sempre as conheci e que as vejo todos os dias.

E a loucura... Aqueles momentos tipicamente Fame ou Hair em que o recinto estava tão cheio que as pessoas iam dançar para a plataforma nas escadas, e momentos em que até a própria plataforma estava cheia e as escadas cheias de pessoas a filmar ou simplemente a ver. Centenas de pessoas sincronizadas a dançar, guiadas pelos melhores do mundo... Suspiro...

Parece que não passou de um sonho. Olho para o pulso. A pulseirinha azul de livre trânsito ainda cá está (e estará até se rasgar sozinha). Rio-me. Para quê olhar para o pulso quando as bolhas dos pés (que vejo e sinto) me dizem exactamente o mesmo?!...Suspiro outra vez...

Dançar das 12:30 até às 19:45 (dois dias seguidos) e mais festas até às 5:00 (três noites seguidas). Tanta dança que o corpo já obedece ao impensável (como tocar pela primeira vez com a ponta dos dedos no chão), que os músculos já nem se sentem, e que dançar é o único objectivo. Três dias alimentada apenas pela dança (e iogurtes grátis!)...

Neste momento são 21:40. Engulo as lagrimas que se avizinhavam e vou tratar de me arranjar. Vou sair, ainda tenho a noite de hoje. É domingo - so what?! Até às 3:00 ainda há congresso. A despedida. E que despedida! - Johnny Vasquez versus Angel Rojas! (Não vos diz nada. O principe da salsa e o (meu) professor de EDSAE são apenas nomes, mas para mim é o acontecimento do mês)... Arrasta-te corpo cansado. Quando recomeçares a dançar logo reencontras a vida. Só mais uma noite...

O congresso mundial de salsa...

PS: Olá! Se conseguiu ler tudo então queira ter a amabilidade de ir ao site http://www.edsae.com/PaginaCongresso/main1024.htm para perceber um pouco mais a loucura do evento (os horários, os artistas convidados...). A gerência agradece.

4 comments:

marina said...

Ah sua ganda maluca!!! isso é que foi hã?? sempre a dar-lhe!! a tua vida não vai ser a mesma né? LOL

foi bom ver-te toda animada, e agora toda saudosa e cheia de coisas pa contar!! =D ************

Tati said...

eu também ficava assim depois das minhas festas de aniversário!nao sou a unica!

eich eu fui ao site!mt bom! o teu professor entao...ate nas fotos parece um boneco elastico lol
as fotos tao mt lindas!imagino o espectaculo k nao deve ter sido.

há semp akela coisa d kerer guardar cada momento dakele evento especial,nao keres deixar escapar as memorias mas as vxs a memoria a curto prazo nao passa metade das memorias pa memoria de longo prazo...^:(

kem me dera ter $ para ir aprender o cha cha ou o rock in roll ou o merengue (gstei la no havana)...e cm ja te disse vais ter d me ensinar mais uns passos d merengue...eu sei k t custa dançar c borregas cm eu k na sabem nda d dança (1 ano e meio de aerobics c mta falta pelo meio that's all I've done outside school...nda mais)...mas nao sou só eu..tb tens d ensinar a menina marina k é pa ela ir dançar c o luis lolol!

gsto mt d t ouvir falar d dança...speak to me ...I'll listen!

beijinhs
tats*

joana said...

só ensino se depois fores dançar com eles! não é pa ficares a dizer que não! e não digas que a culpa da outra vez foi do césar! - tadinho!

sahara said...

wow tanta coisa descrita, tantos momentos que por mais que os tentes descrever só tu (e os que lá estiveram a partilhar a mesma paixão) vão mesmo entender mas mesmo assim...wow.

dance dance dance dance. so a palavra eleva no ar. e o corpo nao responde por nos, brinca consigo mesmo, movimentos que nem sabiamos ser capazes de fazer acontecem e é tudo bonito. cansaço so se sente quando se pára. como tu disseste, quando se recomeça ele já nao está lá. amor é assim.

fazes voltar as minhas saudades. tipo de dança diferente mas mesmo assim. fazes voltar as saudades.

deve ter sido mágico, sem dúvida :) e não fiques triste. dança e sorri porque participaste em algo assim. dança.

beijo grande* :)