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Friday, May 05, 2006

Quando o mundo era pequeno

Por vezes sinto falta de quem era antes. Agora sinto-me uma traição ao que fui e ao que prometi ser. Sem querer quebri promessas seladas ao longo dos anos. Como adultos que as esquecem (as promessas) por estarem "muito ocupados". É nisto que me estou a tornar. Num "deles". Quando era criança batia o pé e dizia: "Quando crescer vou ser diferente com os meus filhos! E vou ter sempre tempo..." blá, blá, blá, conversa esquecida!... E veio a idade e a sociedade e tornou-me num desses seres estandardizados e sem tempo! Porque a vida não é linear como era antes. Quando a minha mãe era só a MINHA! mãe. Mas era muitas (outras) coisas que eu não via. Esposa, filha, irmã, executiva, amiga, mulher, cidadã... tantos mundos e tantas esferas...

E agora é a minha vez de ser engolida por esses (tantos) mundos! a "multiplicidade de papéis" segundo os manuais de psicologia. O meu mundo expande-se e o outro encolhe. Porque o tempo não estica, e o mundo que existia sozinho agora retrai-se para que todos os outros possam caber no mesmo espaço. E veem as desculpas (para quem??). "Ah, não tenho tido tempo", "Agora estou no meio de muitos projectos", "Ultimamente tenho andado muito cansada"... Não, não são tretas, mas para o que existia antes parece uma justificação pouco satisfatória ou confortante.

E o ritual fica para trás. Os meus amores tornam-se esbatidos. Onde estão os livros? Bem à minha frente, todos os dias, como que em constante saudação. Mas onde estão os livros? Onde, as noites em que uma hora de leitura não era nada? Em que as páginas voavam por entre os meus dedos. Em que o chá arrefecia por entre páginas e suspiros. Onde?... Quando o dizerem-me que leio muito não me soava a falso. Onde, o propósito da biblioteca e da livraria em devorar tudo e não apenas namorar os livros nas estantes?...

Hoje sou muitas coisas e sou feliz. Mesmo ocupada, mesmo cansada, corro por gosto e tento não deixar escapar o sorriso.

Mas (ainda) tenho saudades dela. Sinto falta da menina que adormecia em Avalon para no dia seguinte lanchar em Paris e sonhar com Narnia.

Agora parece que tudo o que temos é o quotidiano e o amor de todos os dias. Capas e páginas, palavras à parte.

3 comments:

Tati said...

é por isso que as crianças são tão genuínas!
as crianças são autênticas!
não há autenticidade como a de uma criança!

sahara said...

oh nós criamos sempre mundos diferentes daquele a que depois vamos pertencer. percebo o que queres dizer com traires o que foste e prometeste ser. mas tens de ter em conta que o caminho ainda é longo. que ainda tens muito em que te transformar e chegarás somehow ao full circle. e irás conseguir completar-te como sonhavas. neste momento ainda és pequenina, menos do que já foste, é certo mas ainda há muito para conhecer. de ti e dos outros, do(s) mundo(s). irás conseguir conciliar tudo, eu acho que conseguirás :)
agora compreendes a dificuldade. essa multiplicidade de papeis. é mesmo como disseste, antes as pessoas tinham apenas uma função. mas não entendemos que até para nós, o ser mãe, ser avó, ser tia, ser o que fosse, implicava outras coisas. também eram nossas amigas, protectoras, eram mil e uma coisas nesse singular papel que nos transmitiam.
não são tretas as justificações que dás, claro que não. no meio de tanto papel, de tanto mundo a descoberto e por descobrir, precisas de tempo para te encontrar, parar um bocado no meio de tudo.
os livros estão em todo o lado :) por exemplo, eu tive anos seguidos em que não li, especialmente no secundário (é curioso...). e desde que voltei à faculdade, regressei a esse ritual. impus-me essa regra de não deixar uma paixão morrer. sometimes we just need a time-out but then everything comes back together :) e tu pah, tens milhentas coisas na tua vida e ainda queres mais livros? they understand, they just care to be read someday, somehow, don't worry ;)

corres por gosto, não te esqueças disso. e ainda vais ter de correr bastante. mas sei que a tua vai ser uma corrida interessante, cheia de coisas boas para experimentar e contar :)

isto já está (muitoooo) longo mas só quero dizer que adorei o final do teu post:
"Mas (ainda) tenho saudades dela. Sinto falta da menina que adormecia em Avalon para no dia seguinte lanchar em Paris e sonhar com Narnia.

Agora parece que tudo o que temos é o quotidiano e o amor de todos os dias. Capas e páginas, palavras à parte.
"

(clap clap :D)

beijo grande*

marina said...

lindo post!! eu as vezes também sinto isso. sinto que o tempo voa, e todas as coisas que me prometi fazer naquela ou noutra altura não as fiz porque surgiu sempre qualquer coisa! aparece sempre alguma coisa no meio que nos "impede" de fazer as coisas que nos propusemos...

quanto aos livros *suspiro*...podes crer... tantos livros na estante por ler, tantos outros que queria ainda comprar..mas não há nem tempo nem dinheiro LOL

ainda me lembro de quando a última coisa que fazia era ler...belos tempos esses...agora, vou para a ca,a mais morta que viva..LOL

e concordo com a xary...adorei o final do post..

com calma e paciência vai tudo ao sítio :)

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