Todos os anos chego aqui com as mesmas esperanças. Todos os anos tudo cai por terra. E a cada ano que passa a desilusão tem um sabor mais amargo. É indiferente se como uma salada ou se vou ao McDonalds - ninguém dá pela diferença. Coca-cola trocada por sumos naturais - nada! Silêncio. É injusto. Aos olhos desta gente ainda sou a criança gorda que assaltava o jarro das bolachas a cada quinze minutos.
Mais tarde, quando fazia a peregrinação por entre bancos e conservatórias (como é costume aqui) apercebi-me: se calhar ser gorda é o meu elogio. Como um legado que eles não podem deixar senão a mim. Pensando bem, tanto os filhos, como as noras, como as netas, tudo saiu magrinho! Até a promessa do sobrinho-maravilha se esvaiu desde que ele se tornou vegetariano. Talvez de certa forma eu seja a herdeira dos genes gordos, embora todos saibamos que o laço de parentesco que os une está tão remoto que tal nunca seria possível na realidade. Se calhar o comentário distorcido ("Ah! isso é porque és gordinha como a prima!" - irrita-me quando as pessoas se referem a si próprias na terceira pessoa!) é mesmo um elogio ternurento.
Mas é um elogio que eu dispenso. Não quero esse rótulo porque me prende ao passado. Porque isso mostra-me como uma criatura vulnerável, triste, meia-adormecida no mundo, insegura e apagada e embora tudo isso seja verdade no passado, hoje seria uma imagem distorcida do presente. Não é que eu deseje renegar o passado, eu só não quero ser o passado. Já não sou uma menina gorda. Quanto muito sou uma rapariga gorda (apesar de o adjectivo ser já muito forte para mim! =D ). E isso faz toda a diferença.
4 comments:
no oto dia ia a sara na rua e a tia dela faz a seguinte comparaçao: "ai filha tas tão gorda...! olha lá(par ao marido, meu tio), parece a prima dela!"
a minha prima ta gravida duns belos 7/8meses...
lol
faz tu elogios a ti propria joana!;)
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já não somos muito do nosso passado mas há pessoas que ainda continuam lá presas. e os elogios, aqueles que de elogiosos não têm nada, que antes magoavam e faziam chorar baixinho a um canto, esses permanecem. como uma estúpida tradição.
pego também no que a sari disse porque foi o conselhor perfeito - faz elogios a ti própria :)
beijo grande*
I say, screw them!
What do they know, anyway?
You just remind yourself that you are a beautiful, confident, well-adjusted young woman who can live very well without the opinion of ignorant people!
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damn right! não vivemos dos outros.
"só contigo te salvas ou condenas. os teus amigos, mesmo os mais chegados, não estão contigo na hora grave de seres (...)"
vergílio ferreira :)
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