Todas as discussões são estúpidas. Porque teoricamente há sempre outro caminho. Mas no meio de toda a sua estupidez há sempre algo bom que se pode guardar. Sim, acredito mesmo que nada é totalmente mau, pelo menos não com as discussões. Hoje, enquanto a ferida sara e a minha respiração regressa lentamente ao normal, apercebi-me de como sou forte. De como a minha carapaça endureceu ao longo das discussões que tivemos. De como cresci (porque nas discussões também se cresce, se amadurece). Estou preparada como que para um terramoto (mantimentos, lanternas, uma manta - tenho tudo cá dentro). E por muito catastrófico que seja o estado desta minha vilazinha depois da tempestade, sei que aprendi o suficiente para sobreviver sozinha. As tuas ameaças são como vento porque já não há nada que possas fazer que me impeça de seguir em frente.
Dinheiro? Tenho o resto desta mesada que já não me tiras e as minhas poupanças, consigo manter-me por umas semanas até tudo voltar ao normal. Boleias? Por favor! há meses que não preciso de ti... Sair à noite? Só me podes proibir aos sábados, e esses podes tê-los todos! (Se pensares bem verás que és tu quem sai mais prejudicado disto).
É verdade que este ambiente sufoca. Os dias de pós-guerra que se seguem à catastrofe são sempre tortuosos. O silêncio pesado, o evitar-te e tu a mim, o deixar de comer para não me sentar à mesma mesa que tu. Mas não me importa porque fiz o que estava certo e porque sei ao infinito que o suportarei melhor que tu. Porque tu esqueceste que eu tenho muito mais prática. Parece que não te lembras do que já vivi! Visto a pele de autista mais uma vez, sacudo-lhe o pó e pronto! Mergulho para dentro de mim, para uma caverna cheia de tesouros e esqueço o teu mundo. Aqui posso deixar passar uma segunda Guerra dos Cem Anos se necessário. Tenho uma capacidade de isolamento invulgar e sabes disso - veio nos relatórios, disseram-te os vários psicólogos e professores. Tu sabes! Há castelos que ninguém pode destruir e isso conforta-me.
Agora, com o machado de guerra enterrado, não quero pensar mais no assunto. Ao contrário do que parece não estou triste ou zangada. Desde o início destas páginas que estou em paz. Estas não foram palavras de raiva ou ameaça, mas de contentamento. Fico feliz por descobrir que afinal não sou aquele bichinho fraquinho que podias castigar. Não! Ensinaste-me bem, mesmo nas discussões, mesmo contra ti. Não sou uma predadora, mas uma resistente. Tenho força para sair ao mundo e aguentar-me ao que vier. Não me tiraram o medo, mas deram-me um kit de sobrevivência.
"Tu és a coisa mais importante que vais conhecer." - Obrigada Luís, hoje essas palavras bateram fundo
4 comments:
Cold detatchment! Nice!
Hang in there ;)
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"tenho tudo cá dentro".
tens. temos. vamos aprendendo a ter.
talvez seja melhor guardar tudo cá dentro. e fazer disso o tal castelo.
as discussões têm sempre um poder imenso. um instante que rebenta é igual a dias e dias de martelinhos na cabeça.
as palavras ecoam. os gritos (quando existem). mas é isso. o eco. o que fica depois.
post forte este. com sabor a muro de castelo =)
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odeio discussões. meio-termo parece inexistente. e remar remar remar até um porto seguro e não o avistar por perto. é quase inútil. versões e pontos de vista quase sempre contrários nessas situações. mas apesar das tempestades existe uma pontinha de sol. luz ao fim do túnel. por uns tempos. e depois temos as nossas explosões tão "típicas". mas que nos fazem descobrir aquela força que pensávamos não possuir. mas ela está lá. pronta a rugir nos momentos mais críticos. com quem se atreva a ferir, a perfurar esta pessoa que andamos a construir, a tentar entender e amar desde que nos reconhecemos ao espelho. essa voz nunca cessará de fincar o pé e lutar por si mesma. :)
beijo grande*
os pais às vezes conseguem ser tão impossíveis LOL mas pronto...
ao menos agora estás em paz. tens o necessário. tens-te a ti como certa. segura. confiante. :)
bjinhos *************
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