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Friday, September 01, 2006

Pela noite dentro

A minha mente está uma confusão. Tanto e tão pouco se passou na última hora que é como uma viagem interminável num carrossel. Para mim a realidade são manchas de cor indistintas que se movem num círculo. Nem sei o que sinto. Ou por outra sinto-me... blue. A questão é porquê?

[Blower's Daughter - Damien Rice]

O Zé e a Sofia vieram cá depois de jantar com a menina. Já tem dois anos. Adoro crianças, mas não sei como lidar com elas. Não sei, acho que tenho medo que pensem que sou estúpida (Cause that makes sense!), ou que os pais achem que sou estúpida, ou provavelmente sou só eu que me sinto parva a fazer brincadeiras infantis... tenho medo de fazer comentários à lá Ross... E aqueles dois olhinhos intrigados fixos em mim também não ajudam. Sim, só me vês uma vez por ano e não me reconheces. É a verdade pura e simples, preto no branco, e não devia afectar, mas o facto é que afecta. Dói ver as vidas delas (da pequena Beatriz e das gémeas) passarem-me ao lado. E depois quando as vejo não sei o que fazer. Fico imóvel, como se impusesse a minha presença e isso custa-me. Como se esperassem que me fosse embora para seguirem com as suas vidas, fazerem coisas mais interessantes com o seu tempo. Estes frente-a-frente sabem-me a hipocrisia. Porque não há trivialidades. Não sei detalhes das suas vidas, não sei coisas que não se aprendem com perguntas mas sim com convivência. Tiques, gostos, tons de voz... Porque não me lembro do aspecto delas pelas manhã, acabadas de acordar, ou do som exacto do seu riso.

[Somewhere only we know - Keane]

Tento relembrar-me que daqui a uns anos já não haverá diferença de idades que nos distinga. Quando as gémeas tiverem vinte anos eu terei vinte e seis, será completamente diferente do que é agora. Reconforto-me repetindo o cálculo na minha cabeça uma e outra vez. Isso é uma estúpidez! a minha postura, quero dizer. Até parece que é só esperar que o tempo passe, aguardar que o despertador me avise e depois voltar do nada para criar laços de amizades definitivos. Não há relações instantâneas!

[Parachutes, Pearl Jam]

Custa ver-me aqui com esta gente da minha infância e observar de fora, como quem observa personagens de um quadro em movimento. E o mais absurdo é que sou eu que me cuspo para fora do quadro. Porquê? Não faço ideia...

O que sei é que do nadae depois de respirar fundo o Zé anuncia que vai ser pai outra vez. As doces matronas levantam-se de rompante para felicitar o casal agraciado. O chefe da casa (benfiquista por sinal) apenas returque, naquele humor que sempre lhe conheci: "ora só espero que desta vez seja um rapaz! Mulheres aqui já há que cheguem!". E com isto recolhe-se a ver a telenovela, para deixar as mulheres a cacarejar alegremente sobre o assunto.

E eu? Eu permaneci sentada no meio da gente e de tudo, sorridente mas imóvel, incapaz de proferir uma palavra. Como se fosse capaz de estragar a notícia, como se eu destoasse naquele quadro, como se aquela felicidade fosse deles e eu nem devesse estar ali.

Mas a notícia de uma nova vida? Até um desconhecido no meio da rua lhes daria os parabéns! Até eu faria o mesmo senão os conhecesse. Então porquê? Porquê? Porque não consigo dizê-lo com a minha própria família?? What is wrong with me???? A única resposta uqe vem em meu socorro é uma imagem do Matthew Perry a dizer "I'm Chandler! I make jokes whe I'm unconfortable". A única diferença é que eu jogo pelo seguro e não digo absolutamente nada. Zero!

[Nothingman, Pearl Jam]

Sempre foi assim. Não sei porquê. O que é facto é que com as pessoas mais jovens da família, pessoas que não vejo com tanta frequencia, com quem quero mesmo ser autentica acabo por não ser nada. Como se não encontrasse a saída (normal ou de emergência) do cassulo. E isso arrasta-se por anos e anos a fio. Devem pensar que sou uma tótó! Sei que não deveria ralar-me com oque os outros pensam, mas neste caso não consigo deixar de me importar.

[Somersault - Zero 7]

Só queria amizade e à vontade. Afinal somos família! Lembro-me das tuas palavras sobre o facto de a minha ansiedade ser contra-producente. Tens razão. Fazes-me tanta falta aqui! Quem me dera que estivesses comigo para materes desperto o meu verdadeiro eu. O meu eu espontâneo que sei ser com vocês. Ninguém nesta casa acreditaria que ando mesmo com hastes vermelhas e brincos intermitentes no Natal, que desligo o meu cérebro no Burger King ou no Chinês, que bati palmas no genérico dos Friends 1017 vezes... Não sei se sabem quem sou...

[Don't kill me tonight - Di-rect]

Sinto-me uma fraude, um espaço em branco. Se ao menos um solilóquio de Shakespeare fosse solução para tudo... Mas não é a recitar que vou criar laços (infelizmente).

[Heart of mine - Peter Salett]

Que carrossel! Agora, depois de vomitar tudo para o papel começo a ver as coisas com maior precisão e nitidez. Percebo melhor o meu blue state of mind. Se foi tudp? Não, ainda há mais. Mas por hoje chega...

[I'll be there for you - The Rembrandts*]

* e bato palmas mais uma vez!

2 comments:

Anonymous said...

hey we're here for you!
eu por acaso acho q já senti há não mt tempo atras algumas coisas que disseste aí. na minha família tenho a fama de ser uma determinada coisa mas não sou bem assim. não é que eles nao me conheçam bem mas simplesmente há coisas que não sabem e que o que eles presumem que eu sou no aspecto x sou exactamente ao contrario.

quanto à tua relaçao com as crianças...não te esforces demasiado, no momento pelo qual menos esperas recebes um sorriso sincero delas e isso é do melhor! se as ves pouco tenta marcar as vezes que as vês. bem eu tb nao conheço bem as pessoas por isso nao sei... don't worry too much vai tudo crrer bem não desesperes...
qq coisa ja sabs ne, so nao dspoes se nao kiseres**************

marina said...

às vezes penso que é a tua preocupação constante com os teus actos ou não-actos que te tira essa naturalidade. parece-me que estás constantemente a analisar-te, a colocar-te sob o microscópio e tunga. ali tudo bem analisadinho.

talvez se perdesses essa preocupação tudo fosse mais natural. e refiro-me a várias coisas. não tenhas medo do que possa surgir da tua naturalidade, da tua espontaneidade. se os outros não gostarem, ficarem a olhar para ti com caras de parvos ou te acharem estranha, well screw them.

sabes que eu acho que a família nunca sabe realmente quem somos. acho que nem é esse o seu papel. somos uma parte com eles. a preocupação pela família, o companheirismo dos get-together, mas sinceramente acho que não está na família a(s) pessoa(s) que realmente nos vêm. mas isto sou só eu.

crianças...vem com o tempo. vais-te habituando às coisas delas. às brincadeiras e é ai que começas a saber o que fazer, o que dizer, que tipo de brincadeiras e/ou palhaçadas elas gostam. e ai serás uma heriona LOL

e pronto, acho que me fico por aqui, não que isto esteja grande, nada disso, não quero passar essa ideia. apenas vou ficar por aqui, só isso

=P

bjos ***************************************