Já não me lembrava da sensação. Já lá vão anos desde a última vez. Soube bem. Soube a certo, soube a inacto. Aquele palminhar a livraria por instinto. No meio das minhas dúvidas surgiram uns minutos de sol, um véu de nevoeiro que se levantava para apontar para o mesmo caminho. O trabalho na livraria.
(Já oiço a voz do meu pai na minha cabeça. Não tem futuro, queres mesmo passar os teus dias com um ordenado daqueles? Então sempre quero ver como pagas a salsa, compras casa, asseguras a tua independência. Como vais sustentar os teus filhos? Como te vais prevenir para uma eventualidade? Então e extravagâncias - uma viagem, uns livros, uns dvds, jantares fora com amigos - como vais pagar para tudo isso??) ... e ele tem razão! Não quero prender-me a algo que depois me prenderá a mim de tantas possibilidades. Não quero ser um Rob Fleming. Trabalhar numa livraria não oferece grande autonomia económica, mas possuir uma... Sim, o sonho numa bola de sabão. Tão frágil e sonhado que parece a memória opaca de uma lenda.
Entrei na livraria para pensar. Dedilhar as lombadas, sentir o cheiro a papel. Namorar os títulos e autores... E enquanto reorganizava os livros das estantes (tenho a mania de o fazer de vez em quando em qualquer livraria, colocar os títulos de certo autor por ordem) aconteceu outra vez: Olhe, a menina trabalha aqui? ... Ocorreu-me mentir. Porque sinto-me sempre tão em casa que é quase como se a resposta fosse mesmo sim. Mas Não, e encaminhei a senhora para o balcão. Procurava livros para os sobrinhos. As funcionárias, como que adivinhando colocaram o caso nas minhas mãos: Esta menina ajuda-a a encontrar o que precisar. E assim foi. E o que parecia um saber esquecido regressava a mim com uma ligeireza e naturalidade que me fez sorrir. Corria prateleiras por instinto, com um faro decidido e eficaz. Sabia o que queria e sabia onde estava. E de todos os livros de que me falaram já tinha eu lido ou conhecia o efeito que iria ter nos futuros donos. Kathleen Kelly... Lembrei-me de Kathleen Kelly acerca dos Shoe Books... E naquele momento senti que tinha passado fome, que tinha sido privada de algo essencial sem me dar conta e agora percebia como me pesara a ausência...
Abano a cabeça e penso que sou jovem. Talvez não seja má ideia começar uma carreira (de quê?) trabalhando uns meses numa livraria. Talvez seja para apenas o próximo nenúfar que a minha bússola aponta e não para a estação terminal. Talvez afinal...
4 comments:
o futuro é mesmo isso: um grande e inquietante talvez...
os caminhos começam por algum lado. que sejam agradáveis, que sejam à nossa escolha :)
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=) estamos todas tão inspiradas. gostei deste post. do sabor determinado dele. das palavras encadeadas como os sonhos. de tudo isso que escreves saber a verdade. mesmo que os outros não achem assim.
nós achamos. nós sabemos porque viemos. porque escolhemos este curso. ainda que as sapatadas desse mundo laboral nos tentem fazer esquecer.
e tu disseste a palavra certa quando comentaste ( e muito bem ) o meu blog:
é por amor. =)
não é preciso dizer mais nada !
* * * * * * beijinhos grandes sinhora manata das photos
* hick*
Hell, who cares about the money???
yeah, we do, right....
well, it's always nice to pretend, for a bit, that things can just turn out exactly right, exactly as they could, if....
maybe, why not?
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para possuir uma é preciso conhecer o negócio, como as coisas funcionam. e pode não começar de um modo fácil, iremos certamente ter muitas dúvidas, questionar imenso mas depois...depois entra-se numa livraria e sentimo-nos no lar onde sempre pertencemos. sabemos que podemos fazer um bom trabalho, reconhecemos essa capacidade so let the others talk. it is not their dream.
ai kathleen kelly... :$
beijo grande*
ps: rob até tinha a sua piada. apesar de tudo amava o que fazia e hey, ele tinha a sua loja de discos. e começou trabalhando numa ;) anyway temos sempre a opção de casar com um homem rico, temos o nosso sonho e o dinheiro para os outros prazeres hehe (kiddin)
* [] :)
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