Sentada no carro com um daqueles sorrisos parvos. Parvos, mas tão parvos, tão felizes que nem cabem nos lábios. Este é um daqueles momentos mágicos. Não, este não vou relembrar mais tarde. Isto porque felizmente (e graças a vocês, salseiros) tenho momentos destes (quase) todas as semanas. Não sei onde estaria sem a salsa. Não sei como estaria se tantas coisas não tivessem acontecido/aparecido na minha vida. É engraçado como no fim tudo encaixa. Destino? Não sei, nem estou interessada em rotular o que quer que seja que me faça sentir assim. Porque o sentimento basta-me. O sentimento sobra-me. Sinto-me tão cheia que me falta o ar, como uma descida a pique numa montanha russa. Sinto-me inebriada, a andar alegremente num mar de felicidade onde os meus olhos não conseguem alcançar o horizonte. É aquele sentimento de que falaste, o saber em nós que está (tudo) certo, que é verdade, que não falta mais nada.
Que mais me deixa feliz? Poder olhar para trás e sentir orgulho. Orgulho na minha metamorfose. Penso nas dúvidas que tive, nos caminhos que abandonei pela salsa. Poderia ter feito tanta coisa... Podia ser vocalista numa banda, podia ter ido sair com a "minha" juventude, ter encontrado a peça do puzzle. Mas não me arrependo de nada. Nada. E essa é a verdade. A verdade imensa que faz as palavras que saem da minha boca soarem tão certas: nada! Nada! Nada! É aqui que devia estar, aqui que pertenço. É o que enche a alma, a pessoa que sou hoje.
Deixei a menina perder-se num jardim labiríntico onde poderá descançar em paz, longe de mim. A pequena larva que via o Dirty Dancing todos os dias, que comia bolachas atrás de bolachas e sonhava uma biblioteca de sonhos. A que evitava todos os espelhos e fotografias que pudesse, que vivia no seu mundo e era apelidada de autista. Está longe. Inalcansável! Descasquei-a de mim, como um casaco de Inverno na chegada da Primavera. Feliz! Sorrisos parvos por todo o lado. Descarga eléctrica que percorre todos os poros. Tenho a alma lavada. Transparente. E sinto de/em mim aquilo que devia ter sentido durante tantos anos num casulo.
Há quem diga que sou atiradiça, provocadora com quem danço. Não, embora goste muito dos pares com quem danço, a verdade é que se flirto com alguém é comigo. Porque mereço. Porque pela primeira vez me atrevo a ser feminina e confiante. A trilhar um caminho do qual nunca devia ter saido. A menina de t-shirt, calças e ganga e ténis balança-se feliz de saias e saltos altos. Sinto-me tão autêntica que não me reconheço. Como pude estar tão longe de mim durante tantos anos??
Já nem me importam os pneus e a celulite. Aquela injecção de auto-estima que me dás devia ser vendida em frascos! Todo aquele teu discurso de que "nascemos para ser cheiínhas, que é assim que somos naturalmente bonitas" conforta e alivia. Tu fazes-me acreditar que sou (/posso ser) bonita assim, sem mais nada. Trazes paz de espírito e calma a esta maratona diética que nunca mais acaba.
Sinto-me feliz como um balão de ar quente. Sim, eu também flutuo. E rodopio!
E aquele pequeno milagre. Não esperava que alguma vez viesse a acontecer, já nem me ocorria dessa condição. Mas esta noite lá estava aquela mão, duas vezes! A convidar-me, espontâneamente, para ir dançar. Lembro-me perfeitamente do que disseste quando nos conhecêmos (já foi há um ano? ou mais?). Não me irias buscar, estavas mal-habituado, nós, mulheres, que te fossemos buscar! E nessa altura acenei a cabeça, como um contrato entre os dois. E hoje... tu vieste ter comigo. Como eu me ri enquanto dançavamos! e tu nem te apercebeste porquê. Mais um cabo das tormentas dobrado! Cumpriste a promessa solene que fiz a mim mesma de que faria chegar o dia em que serias tu a ir buscar-me. Um marco!... No fundo não quer dizer nada, mas para mim simboliza algo importante. A minha mudança, e mudar é bom!
A maioria das pessoas acredita que a alegria de dançar está no fenómeno químico da libertação de endorfinas na corrente sanguínea. A salsa é tão mais que isso! (Para mim) é mais do que tudo o que possam dizer que é ou tem a mais. A salsa é uma grande felicidade na minha vida, o meu mote libertador. É exagero, todos dizem. É verdade que sou exagerada e obcecada por natureza, mas sei em mim que sem a salsa seria ainda uma menina perdida na Terra do Nunca.
Dizes que há momentos mágicos. Para mim cada noite convosco, cada noite a dançar é motivo de alegria e profundo agradecimento. São uma infinidade de momentos mágicos dos quais talvez só fiquem o sentimento e as memórias desfocadas numas páginas na net. Mas não será isso suficiente?
3 comments:
também eu fiquei com um sorriso ao ler este texto. fico mesmo feliz por ti :)
e pronto, eu deixo tu também flutuares hehe =p
gostei :) ******************
Os casulos foram feitos para se sair deles, e somos nós que decidimos se queremos continuar dentro deles ou não. Chama-se isso crescer.. custa há que ter forças, (nalguns casos mais que noutros) mas tem de ser feito.. se não a borboleta que há dentro de cada um de nós jamais voará.
Tks pelo post.. e pelas danças ;-)
Voa.....Joaninha.. Voa......
Post a Comment